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Famoso crítico dos BRIC, Stephen Jen adota visão 'construtiva'

Christopher Anstey

03/04/2017 11h50

(Bloomberg) -- Após anos criticando o modelo BRIC de investimento em mercados emergentes, Stephen Jen agora diz que vale a pena olhar para essa classe de ativos.

Jen, que ganhou experiência como analista de mercados emergentes quando trabalhava no Morgan Stanley durante a crise da Ásia, não mudou sua opinião de que muitos desses países não cuidaram de seus defeitos econômicos estruturais. A diferença agora é que o banco central dos EUA (Federal Reserve) aparentemente impôs um teto aos rendimentos dos títulos de longo prazo, apesar de estar subindo a taxa básica de juros. Isso aumenta o incentivo para os investidores buscarem risco.

"Admito que não é característica minha uma postura construtiva em relação aos mercados emergentes excluindo a China", disse Jen, que hoje comanda o fundo de hedge Eurizon SLJ Capital, em Londres. "Mas o ambiente externo é suficientemente favorável para que todos os barcos, até os podres, flutuem mais alto com a maré global de liquidez."

Por anos, Jen criticou a ideia do BRIC, cristalizada pelo Goldman Sachs Group, considerando-a simplista demais devido a hipóteses amplas sobre o potencial das maiores nações emergentes. Em 2012, ele fez uma avaliação pessimista desses países excluindo a China, quando a desaceleração global ressaltava as fraquezas dos fundamentos no Brasil, Rússia e Índia.

"Não estou abandonando minha visão", ele disse. "Brasil, México e Polônia não convencem, quando olho para seus fundamentos locais."

Jen destacou o desempenho especialmente ruim do México, apesar das vantagens proporcionadas pelo Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta). Ele considera a China exceção, graças ao foco contínuo na ampliação do papel da demanda doméstica, nos serviços e na fabricação de produtos com maior valor agregado.

Uma dinâmica que vem ajudando é a percepção cada vez mais arraigada de que a projeção de longo prazo do Fed para a taxa básica de juros - ao redor de 3 por cento - funciona como teto para os rendimentos dos títulos de longo prazo. Os títulos do Tesouro americano com vencimento em 10 anos agora rendem aproximadamente 2,42 por cento, comparado a uma faixa de 3 por cento no início de 2014 ? antes de o Fed começar a subir os juros.

"As mais recentes reações do mercado à decisão (do comitê de política monetária do Fed de elevar a taxa básica de juros) parecem sugerir muita credibilidade no r* baixo", escreveu Jen em relatório no mês passado, se referindo à taxa de juros de longo prazo ajustada pela inflação. "De certo modo, o Fed vem colocando uma meta para os juros de longo prazo da mesma forma que o Banco do Japão vem fazendo."

Para os mercados emergentes, isso significa entrada contínua de fluxos de capitais em busca de rendimento, na opinião de Jen. "Ativos de mercados emergentes podem apresentar desempenho superior novamente neste ano", ele escreveu em relatório divulgado na semana passada. Mas em entrevista à reportagem, ele não escondeu seu ceticismo: "Eles estão chegando perto do valor justo rapidamente."

Três dinâmicas podem acabar com o movimento de valorização desses ativos, segundo ele. Uma seria a queda do preço do petróleo, que já prejudicou mercados emergentes no passado. A segunda seria uma virada na China, que continua aumentando a alavancagem para obter crescimento econômico estável. Por último, uma postura mais agressiva do Fed para conter o avanço da inflação.

"A ausência de notícias é boa notícia para as moedas de países emergentes", ele concluiu.