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Análise: Aumento depende mais da empresa que de você

Peter Orszag

04/04/2017 10h50

(Bloomberg) -- O tipo de empresa em que você trabalha faz uma enorme diferença para suas chances de receber aumentos, concluiu uma nova pesquisa. Isso soma-se às crescentes evidências de que o que acontece dentro das empresas têm peso da porta para fora. Pesquisadores mostraram que as diferenças entre companhias se tornaram grandes a ponto de influenciar o crescimento nacional da produtividade e a desigualdade salarial como um todo nos EUA. O novo estudo sugere que isso pode afetar a mobilidade de renda também.

Após coletar dados de trabalhadores e companhias do Escritório do Censo e da Administração de Segurança Social dos EUA, os pesquisadores John Abowd, do Escritório do Censo, Kevin McKinney, do Centro de Pesquisa de Dados do Censo da Califórnia, e Nellie Zhao, da Universidade de Cornell, categorizaram trabalhadores e seus empregadores em três dimensões: capacitação, resultados e média salarial da companhia. Não surpreende que eles tenham encontrado certa correlação entre trabalhadores e firmas. Funcionários com pouca capacitação tendem a trabalhar em companhias que pagam pouco, por exemplo, e a receber salários baixos.

Vinte e sete por cento dos trabalhadores com pouca capacitação estão empregados em companhias que pagam pouco, mas apenas 17 por cento dos trabalhadores com capacitação média estão na mesma situação.

E quase 80 por cento dos trabalhadores com pouca capacitação nessas empresas estão na faixa inferior da distribuição dos resultados entre todos os trabalhadores, em comparação com muito menos que metade dos trabalhadores com capacitação média nessas mesmas empresas. Por outro lado, 25 por cento dos trabalhadores altamente qualificados estão empregados nas empresas que oferecem salários mais altos, e 89 por cento deles estão na categoria geral de maior receita. Essas companhias empregam 21 por cento dos trabalhadores com capacitação média, dos quais 42 por cento estão na mais alta categoria geral de receita.

Essas classificações possibilitaram que os autores descobrissem o prêmio salarial associado a trabalhar em distintas empresas. As companhias que oferecem salários altos, concluíram, além de pagarem mais que as outras aos trabalhadores com capacitação baixa ou média, também têm uma propensão notoriamente maior à ascensão desses funcionários na distribuição salarial.

Um trabalhador pouco qualificado na faixa superior da distribuição de resultados empregado em uma empresa que paga pouco recebe em média US$ 67.000 por ano, em contraste com US$ 73.000 em uma empresa que paga mais. Para os trabalhadores altamente qualificados na faixa superior da distribuição de resultados, o prêmio associado a trabalhar em uma das empresas que pagam mais é ainda maior: o salário médio é de US$ 81.000 na faixa inferior e de US$ 143.000 na superior. É difícil conciliar essas diferenças, coerentes com as conclusões de estudos anteriores, com o modelo do mercado de trabalho das noções básicas de economia, em que a remuneração de um trabalhador depende exclusivamente de suas capacidades.

O benefício mais importante que a pesquisa encontrou para trabalhadores com capacitação baixa e média em empresas que oferecem salários altos é sua chance de aumentar a renda. Para trabalhadores medianamente qualificados no meio da distribuição de resultados que atualmente estão em empresas com salários baixos, as chances de entrar na mais alta categoria salarial geral são de menos de 1 por cento. Em empresas com remuneração média, as chances são de 3 por cento, e, nas que mais pagam, de 12 por cento.

Outra pesquisa recente sugere que os retornos de capital estão se tornando mais diferenciados entre as companhias, que o crescimento da produtividade não diminuiu nas empresas líderes e que o aumento da desigualdade salarial é principalmente um reflexo das diferenças entre as companhias, não dentro delas. Durante tempo demais, os responsáveis pela política econômica e muitos macroeconomistas praticamente ignoraram o que acontece dentro das empresas e por que algumas se comportam diferente das outras. Se quiserem compreender a desigualdade nos EUA, precisam começar a prestar atenção.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial, da Bloomberg LP e de seus proprietários.