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Dados desta semana afetarão reflação nos EUA: Bloomberg View

Mohamed A. El-Erian

05/04/2017 12h31

(Bloomberg) -- Um conjunto formado principalmente por políticos que prometem muito, porém ainda tocam uma melodia que mal se ouve, vai se deparar com os desdobramentos de três eventos importantes nesta semana que afetam a evolução da reflação nos EUA. Seu desempenho terá dimensões institucionais, econômicas e de mercado. Eis o que esperar de cada evento:

O primeiro é a ata da reunião do banco central dos EUA (Federal Reserve) realizada em 14 e 15 de março. É provável que o documento pinte um quadro no qual a direção da instituição como um todo se mostra mais confiante nas perspectivas para a economia dos EUA, mas deixa de refletir dois fatores em suas projeções quantitativas e na sinalização para os juros no futuro: indicadores atipicamente fortes para o sentimento de empresários e consumidores e os sinais da política pró-crescimento do presidente Donald Trump. Nesta mesma linha, o Fed vai reforçar seu cenário básico de mais dois aumentos de 0,25 p.p. na taxa básica de juros em 2017, mas sem sugerir explicitamente ? pelo menos por ora ? que o balanço de riscos favorece um número maior de acréscimos.

Na quinta-feira, Trump receberá o presidente da China, Xi Jinping, na Flórida, e questões econômicas farão parte da agenda do encontro. Apesar da retórica protecionista agressiva por parte dos EUA, especialmente durante a campanha presidencial, é provável que o tom do encontro seja cordial e construtivo quanto a assuntos econômicos e financeiros. O tom será de reconhecimento da interdependência econômica e de disposição ao trabalho conjunto para promover o comércio justo.

A semana terminará com a divulgação dos dados de geração de empregos nos EUA em março. É previsto um número menor de vagas do que o dado gigantesco (235.000) de fevereiro. O crescimento de salários deve se acelerar, reforçando a impressão de perfeição no mercado de trabalho.

Resumidamente, os dados e políticas governamentais que dominarão as atenções nesta semana vão reforçar o roteiro de reflação gradual, sem chocar o público com reviravoltas dramáticas. É o conjunto formado por políticos europeus e americanos que, no fim das contas, vai determinar se qualquer desfecho extremo se concretizará.

Mas esse conjunto que prefere se distanciar quando se trata de questões difíceis da política econômica verá que ficou mais difícil se manter longe. A pressão está aumentando de todos os lados: a necessidade de evitar a paralisação do governo americano no fim do mês, a resposta às propostas de reforma tributária e gastos em infraestrutura de Trump, os primeiros passos nas complicadas negociações para saída do Reino Unido da União Europeia após a ativação do Artigo 50, a reação a outros movimentos populistas e contra o establishment na Europa, além do inevitável pendor para o nacionalismo econômico que virá no pacote (inclusive no contexto da eleição presidencial na França).

Nos últimos anos, o conjunto de políticos conseguiu que seu papel incoerente fosse ofuscado nos mercados pela hiperatividade dos bancos centrais e pela esperança na disparada do crescimento econômico nos EUA a partir de iniciativas de Trump. Os três importantes desdobramentos econômicos desta semana mostrarão que essa coreografia do conjunto está ficando menos defensável.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do comitê editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.