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Veja como estão jogando Monopoly nos EUA e quem está vencendo

Lance Lambert

05/04/2017 19h28

(Bloomberg) -- A concorrência é positiva para o mercado. Preços mais baixos. Mais inovação. Produtos e serviços melhores.

Mas é possível que atualmente os EUA tenham muito pouco disso em um cenário em que as grandes corporações estão abocanhando o bolo da economia. A concentração do mercado atingiu o maior patamar em três décadas e, desde o fim dos anos 1990, aumentou em mais de 75 por cento dos setores do país, segundo uma versão prévia de um estudo entregue na semana passada à Faculdade de Administração Booth da Universidade de Chicago. O termo concentração de mercado se refere à fatia de um mercado como o de telefonia celular ou o de automóveis controlada pelos líderes desse setor, medida por receita.

Ao mesmo tempo, o governo dos EUA iniciou um número significativamente menor de investigações antimonopólio, segundo o estudo intitulado "Is There a Concentration Problem in America?" ("Existe um problema de concentração nos EUA?"). Em 2014, o Departamento de Justiça não abriu nenhuma investigação contra monopólios e em 2015 foram apenas três. Em 1994, houve 22 investigações.

Gustavo Grullon, professor de finanças da Faculdade de Administração da Universidade Rice e um dos três autores do estudo, reconheceu que não é possível estabelecer uma relação causal entre a concentração de mercado maior e o declínio do número de investigações antimonopólio, mas disse pensar que a correlação é suficientemente forte para exigir "uma atenção séria dos órgãos reguladores". Os outros dois autores também são professores de faculdades de Administração, da Universidade Cornell e da Universidade York, esta do Canadá. Essa pesquisa foi citada em uma coluna de investimentos recente do Wall Street Journal.

Na versão mais recente do estudo, os pesquisadores, que já haviam encontrado uma concentração de mercado crescente, começaram a determinar o que está promovendo a tendência. Os dados que eles descobriram os levaram a rejeitar diversas hipóteses, inclusive a de que o aumento foi o resultado da consolidação de empresas de setores deficitários ou distressed, como os de publicações e de têxteis. Os dados sugeriram, além da fiscalização antimonopolista, que as patentes estão servindo como "barreiras tecnológicas de entrada", mantendo de fora possíveis concorrentes.

"Este é um aspecto importante da economia e a responsabilidade das agências é descobrir se existe um problema ou não", disse Grullon.

Durante a presidência de Bill Clinton, o Departamento de Justiça abriu um número maior de investigações antimonopólio por meio da Seção 2 da Lei Sherman Antimonopólio, talvez a mais notável tenha sido a ação judicial de 1998 por práticas de monopólio e anticompetitivas contra a Microsoft. No geral, o Departamento de Justiça teve uma média de cerca de 13 investigações por ano durante os dois mandatos de Clinton. Esse período coincidiu com uma redução nítida da concentração de mercado.

No governo de George W. Bush, o departamento registrou uma média de três casos por ano. Como candidato, Barack Obama acusou o governo Bush de ser indulgente em relação à fiscalização antimonopolista, mas não ocorreu uma repressão maior durante seu governo. Ao contrário, o governo registrou média de apenas duas investigações antimonopólio por ano com Obama. Grullon afirmou que a concentração de mercado aumentou drasticamente nas presidências de ambos. Um dos primeiros casos importantes abertos por meio da Seção 2 foi a ação judicial de 1909 do Departamento de Justiça contra a Standard Oil Company, de John D. Rockefeller, que acabou provocando o desmantelamento forçado da companhia.

"Quando se tem um poder econômico significativo isso pode trazer poder político e pressões antidemocráticas", disse Maurice Stucke, professor de Direito da Universidade de Tennessee e ex-promotor do Departamento de Justiça. "Estamos começando a ver setores altamente concentrados, lucros acumulados para um punhado de empresas e menos startups. E aí vemos os impactos que isso pode causar sobre a inovação e a desigualdade de riqueza."