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As barreiras à retomada da produção petrolífera na Venezuela

Mark Shenk

11/04/2017 09h54

(Bloomberg) -- Uma recuperação do setor petrolífero da Venezuela, o principal do país, demoraria pelo menos dois anos, sob as melhores circunstâncias.

Do jeito que as coisas estão, pode ser praticamente impossível. Foi este o recado de analistas que afirmam que a intervenção do governo na Petróleos de Venezuela SA (PDVSA) afastou os profissionais qualificados para aumentar a produção, que caiu 16 por cento desde que o presidente Nicolás Maduro tomou posse há quatro anos.

A oposição a Maduro vem renovando forças após uma tentativa frustrada de demovê-lo no ano passado. Mas a reversão do declínio da Venezuela como produtora de petróleo requer mais do que a ascensão da oposição. O país precisaria resolver dívidas com prestadoras de serviços, consertar infraestrutura e, potencialmente, conseguir que empresas estrangeiras aceitem operar alguns campos.

"Primeiro é preciso estabilizar a produção, o que levaria pelo menos 12 meses sob as melhores circunstâncias", disse Luisa Palacios, diretora-gerente sênior da Medley Global Advisors, em Nova York. "E acho que demoraria outro ano para começar a haver aumento da produção."

Em meio a um severo aperto no caixa, a Venezuela enfrenta uma dura prova nesta semana. A PDVSA precisa pagar mais de US$ 2 bilhões em dívidas. A petrolífera prometeu honrar suas obrigações e avisou que já está transferindo pagamentos de cupons para outros títulos com vencimento em 2027 e 2037.

A PDVSA se recusou a fazer comentários e o Ministério do Petróleo não retornou imediatamente telefonemas e um e-mail da reportagem.

Protestos populares

Opositores de Maduro foram às ruas nos últimos dias após a Suprema Corte tentar assumir o Congresso, controlado pela oposição. Manifestantes pedem novas eleições e desaparelhamento das instituições comandadas por partidários socialistas. Um protesto nacional marcado para 19 de abril será a maior de todas mobilizações, segundo o líder da oposição, Freddy Guevara.

A Venezuela foi uma das fundadoras da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). O país nacionalizou a indústria petrolífera em 1976. Empresas estrangeiras foram convidadas a voltar a atuar por lá na década de 1990 para ajudar a desenvolver depósitos no Cinturão do Orinoco. Porém, o governo acabou ampliando a participação da PDVSA nessas joint ventures e eventualmente tomou os campos que pertenciam a empresas como Exxon Mobil e ConocoPhillips.

A produção petrolífera responde por cerca de 95 por cento das receitas em moeda estrangeira da Venezuela e ainda não se recuperou totalmente desde a greve geral de 2002 e 2003 que visava derrubar o então presidente Hugo Chávez. Ele reagiu demitindo mais da metade dos quadros da PDVSA e determinou que a estatal direcionasse parcela maior de seus ganhos a programas sociais.