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Campanha de reflação do BCE esbarra em diferenças entre países

Giovanni Salzano e Lorenzo Totaro

12/04/2017 12h21

(Bloomberg) -- Na colcha de retalhos de 19 países na zona do euro, a avaliação do sucesso do programa de afrouxamento quantitativo (QE), implementado pelo Banco Central Europeu desde março de 2015, depende muito da nação em questão.

Um dos quatro sinais de perspectiva saudável para a inflação listados pelo presidente do BCE, Mario Draghi, em janeiro, é que avanços de preços sejam disseminados por toda a região. Assim, embora o BCE tenha como meta uma inflação média pouco abaixo de 2 por cento no médio prazo, a abertura por país ajuda a mostrar se esse sinal se concretizará no curto prazo.

Cálculos da Bloomberg mostram o impacto do QE de 2,28 trilhões de euros (US$ 2,42 trilhões), refletido na correlação entre a compra cumulativa de ativos e a inflação ajustada para alimentos, combustíveis, álcool e tabaco. O coeficiente de correlação determina até que ponto o movimento das duas variáveis é associado. Uma correlação positiva mostra que o índice de preços está subindo junto com o estoque de títulos nas mãos do BCE. Uma correlação negativa mostra que os preços não avançaram, apesar do andamento das compras de títulos.

Na Lituânia e Eslováquia, a correlação é quase perfeita. Em Chipre e Malta, onde as compras de títulos começaram tarde ou ficaram aquém da meta nominal, a correlação é negativa.

Mas o aspecto mais impressionante é a diferença entre Alemanha e Itália. A maior economia europeia registrou a quarta maior correlação positiva, enquanto a terceira maior economia da zona do euro teve resultado ligeiramente negativo.

Somente na Itália, o total líquido de instrumentos públicos comprados sob o QE entre março de 2015 e março deste ano foi de 246 bilhões de euros. Porém, a economia italiana terminou 2016 com deflação pela primeira vez desde 1959, com queda anual dos preços ao consumidor de 0,1 por cento.

Ou seja, há muito chão pela frente nas regiões da zona do euro onde existe muita ociosidade, desemprego elevado e necessidade de reformas estruturais. O quadro também fortalece o argumento do BCE de que, não importa a quantidade de dinheiro impresso, isso não substitui melhorias no tecido econômico de cada país.

"Embora o QE seja uma maneira eficaz de ajudar o banco central a atingir seu objetivo para a inflação no médio prazo, não é eficaz igualmente entre os países e pode até se provar ineficaz em países que passam por significativa reestruturação do setor corporativo, como foi o caso da Itália", disse Raffaella Tenconi, economista sênior da corretora Wood & Co., de Londres. Ainda assim, isso não é "suficiente para provar que o QE foi contraproducente", ela acrescentou.

O BCE não publica pesquisas sobre inflação nacional desde o QE, embora uma avaliação inicial de setembro do ano passado tenha concluído que o programa de compra de ativos "contribui para estabilizar a economia e empurrar para cima a taxa de inflação". Para alguns países, essa conclusão é mais verdadeira do que para outros.