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Carro voador? Aviões elétricos são aposta melhor

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Imagem: Divulgação

Adam Minter

12/04/2017 14h03

(Bloomberg) -- O conceito é familiar: troque as viagens de carro por jornadas de alta velocidade em veículos elétricos para as massas. A China faz isso com sua famosa rede de trens de alta velocidade (conhecida também pelo alto custo). Na semana passada, Boeing e JetBlue Airways investiram em outra ideia: aviões elétricos. Se a aposta delas der certo, os passageiros poderão começar a fazer suas primeiras viagens nos Teslas aéreos em uma década. O avanço poderia transformar a forma com que grande parte do mundo se desloca do ponto A ao ponto B -- para benefício de todos.

Aviões elétricos não são uma ideia nova, é claro; seus defensores prometem a chegada iminente da tecnologia há décadas. Mas os avanços recentes, em particular nos campos de baterias e propulsão elétrica, tornam a possibilidade muito mais realista. A Boeing e a JetBlue mostraram confiança suficiente na tecnologia para apoiar a Zunum Aero, uma startup com sede em Washington que espera finalizar um avião movido a bateria em 2020.

A necessidade é muito real. Em tese, ao praticamente eliminar os custos do combustível, os aviões elétricos viabilizariam rotas atualmente deficitárias. Segundo a Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA, na sigla em inglês), cerca de 70% do tráfego aéreo comercial de passageiros dos EUA passa por apenas 30 aeroportos. Esse sistema baseado em aeroportos concentradores de voos não atende às necessidades dos viajantes que utilizam aeroportos pequenos e regionais. As passagens aéreas nesses aeroportos menores tendem a ser significativamente mais caras e, em muitos casos, subsidiadas pelo governo. (Nos EUA, o governo Trump quer acabar com esses subsídios).

Carros x aviões

Em vez de voarem, os americanos, portanto, utilizam seus lentos automóveis em mais da metade das viagens de menos de 1.200 quilômetros (ou percorrem distâncias maiores de carro até aeroportos mais baratos e movimentados) para economizar. O modelo não é apenas ineficiente, é também terrível para o meio ambiente: os carros geralmente queimam mais combustível por passageiro do que os aviões.

Grandes países em desenvolvimento como Índia e China já estão começando a desenvolver a cultura das viagens de longa distância de carro. Se seguirem o modelo dos EUA, mas com sua escala bastante maior, o céu já esfumaçado e as ambiciosas metas desses países para as emissões serão afetados. Os jatos elétricos podem ajudá-los a acelerar o processo de construir conexões aeroviárias para áreas rurais menos desenvolvidas. Com efeito, esses aviões poderão se transformar na concorrência de alta velocidade e baixo carbono às viagens longas de carro, aos caros trens de passageiros e aos ônibus intermunicipais.

Até recentemente, os voos elétricos pareciam uma façanha, e não o caminho para o futuro do transporte. As aeronaves movidas a energia solar, por exemplo, são ótimas para chamar a atenção, mas não para transportar pessoas, muito menos com conforto.

Contudo, os avanços dos materiais leves, dos motores elétricos e, o que é mais importante, das baterias, abriram novas possibilidades. Em 2011, uma aeronave de dois assentos movida a bateria construída pela Universidade de Stuttgart voou 100 quilômetros com 25 quilowatts-hora de eletricidade, que custa em torno de US$ 3. Três anos depois, a Airbus seguiu o exemplo com o E-Fan, um avião totalmente elétrico de dois assentos equipado com bateria de lítio.

Assim com as produtoras de veículos, as fabricantes de aviões atualmente estão se concentrando em tecnologias híbridas que poderiam ampliar o alcance dos aviões elétricos e ser implementadas mais rapidamente. Citando avanços recentes das tecnologias de propulsão elétrica, por exemplo, a Airbus anunciou na semana passada que estava cancelando os planos de produzir o E-Fan em favor de um jato regional híbrido-elétrico que poderia voar nos próximos três anos.

A Nasa, a agência espacial dos EUA, também busca um jato híbrido de 60 a 90 assentos e trabalha em conjunto com a Hyannis-based Cape Air, a maior empresa aérea regional privada dos EUA. Os cientistas da Nasa compilaram dados de referência de voo e de economia de combustível de um avião regional italiano que a empresa aérea estava avaliando e estão reformulando a aeronave como um avião elétrico, com novas asas e motores. A Nasa estima que a atualização elétrica deverá reduzir os custos operacionais em 30% e resultará em emissão zero de carbono em voo. Os testes deverão começar neste ano.

Futuro híbrido

Com seus investimentos na Zunum Aero, uma empresa criada há quatro anos, a Boeing e a JetBlue têm os olhos voltados para um futuro híbrido que amplia o alcance da aeronave elétrica a 700 milhas (1.126 quilômetros). A Zunum planeja aviões de 10 e de 50 assentos que seriam 40% a 80% mais baratos de operar do que seus pares convencionais. Isso não é tudo: seu mapa tecnológico também inclui a possibilidade de um avião de passageiros de 100 lugares que seria lançado na década de 2030.

Por enquanto, o maior obstáculo continua sendo a tecnologia da bateria. Os avanços recentes se devem em grande parte ao fato de as baterias estarem se tornando mais leves e eficientes. Para transformar seus sonhos dignos de ficção científica em realidade, a Zunum e outras empresas de aviões elétricos precisam que a capacidade atual seja duplicada nos próximos anos. Essa possibilidade não é totalmente descabida: a densidade energética das baterias melhorou cerca de 8 por cento ao ano nos últimos 30 anos e os enormes investimentos da Tesla e de outras empresas de tecnologia deverão contribuir para que os avanços continuem acontecendo. Por isso, não se surpreenda se algum dia, em breve, você acabar tomando um avião elétrico.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.

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