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Traders apostam em alimentos livres de glúten atrás de lucro

Agnieszka de Sousa e Andy Hoffman

12/04/2017 12h19

(Bloomberg) -- Há tão pouco dinheiro no negócio de compra e venda de trigo, milho e soja atualmente que alguns traders estão recorrendo a mercados obscuros, de tomates cultivados no deserto e grão de bico, para conseguir lucros.

As margens para negociação das grandes safras de grãos despencaram porque os produtores cultivaram mais do que o mundo precisa durante quatro anos. Isso levou empresas como a alemã BayWa a procurar nichos como tomates e grãos orgânicos, nos quais os retornos são mais elevados. Outros recorreram a ingredientes de alimentos processados, mais caros, ou a produtos livres de glúten.

"O ambiente geral de trading para as commodities agrícolas está bastante difícil", disse Jean-François Lambert, fundador e sócio-gerente da consultoria Lambert Commodities. "Tem sido assim por dois anos e parece que este ano poderá ser desafiador."

Este é um bom presságio para os traders que ganharam gordura nos anos de expansão da última década, quando os preços subiram com base na demanda do crescimento da população mundial em termos de tamanho e saúde.

As empresas maiores que negociam enormes volumes no mercado de grãos podem ver um efeito limitado em seus resultados finais provenientes dos mercados de nicho, mas as traders de pequeno e médio porte podem se beneficiar mais. Elas foram atrás de produtos menos conhecidos, como quinoa e safras orgânicas, com margens e demanda melhores de consumidores preocupados com a saúde.

A Grain Services, uma corretora com sede em Reggio Emilia, Itália, recebe cerca de 30 por cento de sua receita com produtos livres de glúten, orgânicos ou de nicho, como quinoa, arroz, amaranto e lentilha, apesar de eles representarem apenas 7 por cento do 1,5 milhão de toneladas dos cultivos com que a empresa lida, disse o diretor-gerente Andrea Cagnolati.

Livre de glúten

A demanda dos consumidores está transformando os alimentos livres de glúten e orgânicos em uma das áreas de crescimento mais rápido do setor, segundo uma apresentação de Cagnolati na conferência Black Sea Grain, em Kiev, na semana passada. O setor de produtos livres de glúten deverá expandir cerca de 10 por cento ao ano e as receitas anuais atingirão US$ 7 bilhões em todo o mundo até 2020.

"A quantidade é baixa, mas nós obtemos margens muito boas", disse Cagnolati, em entrevista na conferência. "As margens nos mercados tradicionais de grãos são muito baixas, ou até negativas, como é o caso dos EUA."

A BayWa, a empresa alemã do agronegócio que reforçou suas operações de grãos e registrou prejuízo em sua unidade de trading no ano passado, está recorrendo a uma produção orgânica e com estufa. A empresa entrou em um empreendimento para cultivar e negociar tomates premium nos Emirados Árabes Unidos.

Até mesmo gigantes do setor como Glencore e Bunge entraram ou se expandiram em áreas menos negociadas nos últimos dois anos. A Bunge, que está no negócio de trading há 200 anos, adquiriu uma empresa turca de azeite de oliva e a Glencore está operando o produto a partir de seu escritório de Madri.

"As grandes corporações aumentarão seu envolvimento nos mercados emergentes, onde ainda há espaço para gerar margens ou explorar uma vantagem competitiva", disse Miroslaw Marciniak, consultor da InfoGrain, com sede em Varsóvia, e ex-trader de grãos. "A escala é importante, por isso eles continuarão negociando em quantidade."