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Setor químico soa alerta sobre desordem em meio ao Brexit

Jonathan Stearns e Viktoria Dendrinou

17/04/2017 13h37

(Bloomberg) -- O setor químico se prepara para uma saída atribulada do Reino Unido da União Europeia. O Brexit ameaça o mercado integrado que é a base de mais de 40 bilhões de euros (US$ 42 bilhões) anuais em trocas comerciais.

Para Marco Mensink, diretor geral do Conselho Europeu da Indústria Química (que representa empresas como BASF, Akzo Nobel e Dupont), o Reino Unido e do resto da Europa estão iniciando dois anos de negociações com posições muito diferentes, o que é especialmente arriscado para o setor químico por causa da intensidade do fluxo desses produtos pelo Canal da Mancha.

"Nós vamos soar muitos, muitos alarmes durante as negociações do Brexit", avisou Mensink em entrevista em Bruxelas. "Há risco de as coisas desandarem. Parece haver desconexão na comunicação entre os dois lados."

O setor servirá de barômetro para o estrago econômico que pode ser causado na Europa se o Reino Unido sair do bloco de 28 nações sem um acordo, ressaltando os riscos que a primeira-ministra Theresa May e suas contrapartes da UE enfrentarão nas discussões agendadas para começar em maio.

O presidente da BASF, Kurt Bock, disse a acionistas que o Brexit é uma incerteza importante e alertou que poderia afetar "nossa competitividade e a de nossos clientes em nosso mercado local, a Europa".

Obstáculos regulatórios

O Brexit impõe tantos desafios regulatórios que será necessário um arranjo transicional favorável ao setor privado no período entre a saída do Reino Unido, em 2019, e a entrada em vigor de qualquer acordo sobre o futuro relacionamento dos britânicos com a UE, disse Mensink.

"A verdadeira pergunta é se haverá vontade política para um acordo transicional", ele colocou. "Resolver as questões do Brexit que afetam o setor químico será como reverter uma omelete para a forma de ovos. Insistimos que as autoridades encontrem soluções."

Para ilustrar a complexidade da separação no mercado de químicos da UE, o detergente é um bom exemplo.

Uma marca de detergente bastante vendida nos supermercados britânicos é feita de químicos que cruzam o Canal da Mancha várias vezes durante os processos de produção e distribuição, segundo Mensink. Ele explica que a matéria-prima é produzida na França, processada no Reino Unido, enviada à Alemanha e devolvida para embalagem no Reino Unido. O produto final é então distribuído em toda a UE.

A saída do Reino Unido do mercado comum sem qualquer arranjo transicional aumentaria os impostos incidentes sobre bens de consumo e atrapalharia o fluxo de insumos entre a UE e o Reino Unido, elevando custos para fabricantes e consumidores finais. Além de químicos para uso dos consumidores, petroquímicos e plásticos são os produtos mais importantes para o setor.

"Se não organizarmos isso, voltaremos a uma situação em que os caminhões ficam aguardando na fronteira", disse Mensink.

As tarifas são outra ameaça ao setor químico.

Sob o regime da Organização Mundial do Comércio (OMC), as tarifas médias ficariam entre 3 por cento e 4 por cento nas trocas comerciais entre o Reino Unido e o resto da UE se não houver um acordo transicional e um acordo de livre comércio em seguida.