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País mais fechado da Escandinávia agora procura imigrantes

Peter Levring

20/04/2017 14h58

(Bloomberg) -- Sob a pressão dos nacionalistas, os sucessivos governos dinamarqueses mantiveram um controle estrito sobre a imigração.

Mas agora, diante de uma possível escassez de mão de obra, o Ministério das Finanças do país que ganhou as manchetes do mundo ao confiscar objetos de valor dos refugiados diz que necessita de mais trabalhadores estrangeiros.

A análise de números do ministério, com base em enormes quantidades de dados sobre assistência social, visa apresentar dados concretos em um debate frequentemente emocional que tem desempenhado um papel-chave em campanhas eleitorais na Europa, nos EUA e no Oriente Médio.

A conclusão da Dinamarca é bem simples: até mesmo o emprego de tempo integral com o salário mais baixo é suficiente para transformar um refugiado não qualificado em amigo da receita federal. O ponto de equilíbrio na Dinamarca é atingido quando um imigrante começa a ganhar um salário anual de 200.000 coroas dinamarquesas (US$ 28.540) -- algo que pode ser atingido facilmente trabalhando 40 horas por semana com o salário mínimo.

Ao contrário dos imigrantes econômicos ou dos solicitantes de asilo que fogem de conflitos, os estrangeiros de outras economias avançadas tendem a ser contribuintes líquidos desde o começo porque eles geralmente se mudam quando já conseguiram um emprego na Dinamarca.

O escritório de estatísticas da Dinamarca define como "ocidental" toda pessoa proveniente da União Europeia, da América do Norte ou da Austrália.

"De modo geral, a imigração dos países ocidentais ajuda as finanças do governo, ao passo que a imigração de não-ocidentais impõe custos", disse o ministro das Finanças, Kristian Jensen, em entrevista recente de Copenhague. "Mas não é uma questão de preferir um grupo ou outro. O que temos que tentar é conseguir um trabalho para todos os imigrantes."

Permanência

De acordo com cálculos do ministério, elevar as taxas de participação de trabalho e os níveis de habilidade dos imigrantes para que estejam em pé de igualdade com os dinamarqueses poderia somar até 20 bilhões de coroas dinamarquesas (US$ 3 bilhões) por ano aos cofres do Estado. Colocado em perspectiva, esse valor é quase igual à necessidade de endividamento líquido da Dinamarca neste ano.

Segundo o ministério, é importante observar que o principal fator que determina o quanto um grupo em particular soma ou subtrai é o tempo de permanência no país. À medida que os estrangeiros se integram ao mercado de trabalho, eles deixam de ser beneficiários e passam a ser contribuintes. Os solicitantes de asilo tendem a ter um impacto maior nas finanças públicas porque eles precisam de moradia, capacitação no trabalho e aulas de língua. Isso ajuda a explicar porque os sírios, cujo número aumentou muito desde 2014, custam tanto.

No primeiro trimestre de 2014, só 6,9 por cento dos refugiados que estavam no país há 12 meses tinha conseguido emprego. Essa percentagem subiu para 14,2 por cento no fim de 2016.

Segundo o Ministério das Finanças, isso mostra que suas políticas estão funcionando.

"A imigração pode ser um bom negócio para as finanças do governo desde que as pessoas queiram trabalhar", disse Jensen. "Se a imigração não envolver o mercado de trabalho, é um mau negócio."