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BCE pode acelerar estratégia de saída após eleição na França

Alessandro Speciale e Andre Tartar

24/04/2017 10h47

(Bloomberg) -- Mario Draghi talvez esteja disposto a trilhar um caminho mais rápido até a normalização da política monetária do que os economistas imaginavam antes.

Não há expectativa de mudança nos juros ou no programa de ativos durante a reunião do Banco Central Europeu nesta quinta-feira, mas a maioria dos participantes de uma sondagem da Bloomberg prevê que o presidente da instituição revisará sua sinalização (forward guidance) já em junho ? seis meses antes do apontado em uma pesquisa anterior. Os economistas também encurtaram o período esperado para a retirada gradual dos estímulos quantitativos e anteciparam a previsão para a elevação dos juros.

Divergências públicas entre o alto escalão nas últimas semanas alimentaram especulações de que o BCE está próximo de sinalizar a retirada do extraordinário estímulo monetário que proporcionou. Embora Draghi tenha tentado calar essas especulações, a diminuição das preocupações relativas à eleição presidencial na França após o primeiro turno e a recuperação consistente da zona do euro podem convencer o presidente do BCE a dar dicas sobre sua estratégia de saída. A pesquisa foi realizada antes da votação de domingo.

"Presumindo que não ocorrerão grandes choques, então o BCE desejará começar a retirar o estímulo monetário, ainda que em ritmo modesto", disse Alan McQuaid, economista da Merrion
Capital, em Dublin. "É provável que comece mudando a sinalização após a eleição francesa e depois anunciando a intenção de retirada gradual após a eleição na Alemanha, em setembro, e então entregando com a redução das compras de títulos."

A reunião na quinta-feira, em Frankfurt, pode marcar o início oficial da discussão sobre a estratégia de saída, que, até agora, só foi aventada em aparições públicas e entrevistas. Após a reunião do Conselho Geral, em 9 de março, Draghi afirmou que o assunto não veio à tona e, em discurso em 6 de abril, enfatizou que a economia não oferecia justificativa para "alterar substancialmente nossa avaliação da perspectiva de inflação."

O risco Le Pen

Muito depende da França, onde a candidata da Frente Nacional, Marine Le Pen, é contra o euro e recebeu votos suficientes para chegar ao segundo turno, em 7 de maio. Mesmo assim, a moeda única e as bolsas europeias dispararam após a contagem de votos mostrar que seu oponente será o centrista Emmanuel Macron. Pesquisas de intenção de voto indicam que Le Pen será facilmente derrotada.

Contudo, até o segundo turno, o apoio a Le Pen pode aumentar. Integrantes do Conselho Geral do BCE que participaram dos encontros do Fundo Monetário Internacional em Washington durante o fim de semana sinalizaram que suas linhas de liquidez seguem disponíveis para contrabalançar qualquer tensão no mercado.

"A concretização do severo risco associado à vitória dela não pode ser excluída até o momento em que o BCE tomar sua decisão", disse Christopher Matthies, economista da Sparkasse Suedholstein. "Uma grande mudança no palavreado ou qualquer ação parecem, portanto, improváveis, considerando a possibilidade de reversão."

O banco central atualmente afirma que espera manter os juros "no nível presente ou menor por um período prolongado" e até "bem depois" do encerramento do estímulo quantitativo. Dos 47 economistas sondados na semana passada, somente 8 esperam mudança na sinalização na próxima reunião. Mesmo se estiverem corretos, a mudança seria relativamente pequena. Com exceção de um entrevistado, todos acreditam que o BCE removeria a indicação de que os juros podem cair ainda mais.