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Caravanas de enlatamento salvam cervejarias artesanais dos EUA

Kyle Stock

24/04/2017 11h22

(Bloomberg) -- Preto e untuoso como o café, o canal Gowanus, do Brooklyn, seria um lugar desanimador para um comercial da cerveja Coors Light. Nada de montanhas erguendo-se aos céus, só a via expressa entre o Brooklyn e Queens. E a água não é bonita nem interessante; é um caldo químico e melancólico.

No entanto, o lugar se tornou praticamente sagrado para a crescente congregação de adoradores da cerveja. Em um galpão lotado perto da margem ocidental do canal, entre um McDonald's e uma terminal petrolífera, fica a Other Half Brewing Co., fabricante de uma das cervejas mais badaladas do momento.

Os barris entram e saem constantemente, mas o lugar começa a ferver de verdade na quinta-feira de manhã; é quando chegam as caravanas de cerveja. Dois homens em um caminhão do tamanho e do formato de um food truck, operam equipado com maquinário preciso para esguichar, carbonatar, lacrar e etiquetar quase 20.000 latas de 455 mililitros em um dia de 12 horas.

O primeiro fanático por cerveja normalmente aparece pouco depois de a última lata ter sido lacrada na noite de sexta-feira. A fila dura até às 10 da manhã de sábado, quando cada pessoa pode comprar um engradado de cada variedade à venda por cerca de US$ 96. Os engradados costumam esgotar em poucas horas ? 1.000 engradados por semana, 24.000 latas ao todo. Nesse momento, os enlatadores itinerantes já estão longe dali, rumo à Finback, à Aeronaut ou a qualquer outra das centenas de cervejarias artesanais que atualmente dependem de seus serviços de enlatamento para saciar a sede dos consumidores de cervejas de culto.

No mundo da cerveja, o pequeno está, de forma lenta e consistente, superando o grande, graças principalmente a umas doze operações nômades de enlatamento. Cobrando por lata, este próspero setor ajuda centenas de startups cervejeiras a chegar aos consumidores sem ter de comprar maquinário caro para o qual essas pequenas empresas não têm nem dinheiro nem espaço. Como resultado, um número crescente das 5.300 cervejarias existentes hoje nos EUA pode prosperar ? ou pelo menos sobreviver.

A Iron Heart Canning, que tem sede em Norwalk, Connecticut, e se encarrega do enlatamento da Other Half, possivelmente é a maior e mais ativa das empresas dessa espécie. O fundador Tyler Wille, entusiasmado por anos criando cervejas cada vez melhores em casa, pretendia abrir sua própria cervejaria. Trabalhando em hedge funds em Nova York, ele analisava incessantemente os números do emprego de seus sonhos durante a crise do subprime: cerca de US$ 1 milhão para propriedade e equipamento de fermentação e mais US$ 300.000 para um sistema de enlatamento ? além de ter que lidar com um número cada vez maior de concorrentes. Wille decidiu pular a fermentação e se concentrar no enlatamento. Nasceu assim a Iron Heart.

Ele comprou seu primeiro caminhão de enlatamento no começo de 2013. Dali, tudo avançou rapidamente. "Eu tinha 10 parceiros de fermentação desde o princípio", lembra ele. "Percebi que tinha a oportunidade de criar um mercado aqui." Com uma enxurrada de pedidos, a Iron Heart implementou mais dois caminhões em um ano. Em 2015, Wille vendeu a companhia a dois investidores privados, permaneceu como CEO e comprou imediatamente três operações similares, estendendo o império da Iron Heart de seu coração na Nova Inglaterra até Ohio, no lado oeste, e até Virgínia, ao sul.

Hoje, a Iron Heart tem 22 caminhões que atendem a cerca de 250 cervejarias. Operando à máxima capacidade, eles podem encher umas 563.000 latas por dia. São 642.000 barris de cerveja por ano, quase 3 por cento de toda a produção artesanal dos EUA. Em outras palavras, a companhia produziu cerca de um quarto de todas as novas cervejas artesanais lançadas nos EUA nos últimos dois anos.

"Para esses caras, a questão é alugar ou comprar", explicou Wille. "Somos a opção do aluguel, que reduz o risco."