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Fed pode ver risco de inflação em cortes de impostos de Trump

Rich Miller

27/04/2017 10h25

(Bloomberg) -- O que o presidente dos EUA, Donald Trump, dá à economia na forma de enormes cortes de impostos, a comandante do banco central, Janet Yellen, pode retirar com a alta dos juros.

Com a economia americana já próxima do pleno emprego, o Federal Reserve está inclinado a apertar o crédito para impedir um superaquecimento diante dos cortes dos tributos e do aumento do déficit público.

Integrantes do Fed sinalizaram mais dois acréscimos nos juros neste ano e três no ano que vem. Segundo eles, o estímulo fiscal representa risco de a economia crescer mais do que o esperado. Esse risco se amplia se Trump contar mais com o endividamento público ? e não com compensações às alterações na legislação tributária ? para bancar os cortes de impostos, como alguns de seus subordinados indicaram que ele pode fazer.

Um esboço da proposta de Trump foi anunciado na quarta-feira pelo secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, e pelo principal assessor econômico da Casa Branca, Gary Cohn. O plano coloca o governo em possível rota de colisão com o Fed, que já chegou muito perto de atingir seus objetivos econômicos e dá os primeiros passos no processo de elevar juros baixíssimos.

"O maior corte de impostos da história tem implicações para a política monetária", disse Lou Crandall, economista-chefe da Wrightson ICAP LLC, em Jersey City, Nova Jersey, se referindo às palavras usadas por Mnuchin para descrever o plano. "Se a impressão for que o pacote aumentará o déficit, isso será um argumento para mais aperto, não menos."

Autoridades do Fed teriam recebido bem um estímulo fiscal no início do ciclo de expansão que começou em meados de 2009, quando o desemprego ainda era alto e a inflação estava muito abaixo da meta de 2 por cento. No entanto, agora que a taxa de desemprego está no menor nível em quase 10 anos e os preços estão cada vez mais pressionados, o alto escalão do banco central não vê necessidade de impulso de curto prazo pelo governo federal.

Segundo representantes da Casa Branca, o presidente pretende reduzir a alíquota tributária para pessoa jurídica de 35 por cento para 15 por cento e aplicar uma alíquota de 10 por cento sobre os recursos que as empresas americanas guardam no exterior. Trump também quer baixar o imposto de renda para pessoa física, diminuindo o número de faixas de base de cálculo de sete para três.

Riscos de inflação

O modo de bancar o pacote tributário será importante para o Fed. Por exemplo, se um corte de impostos para a classe média for aplicado junto com limites sobre deduções, então o impacto imediato sobre a demanda e a economia seria contido. Se não for o caso, é mais provável que proporcione um impulso de curto prazo ao crescimento econômico que poderia ensejar uma resposta por parte do Fed.

Na semana passada, o diretor de orçamento de Trump, Mick Mulvaney, declarou que o foco do governo é promover o crescimento econômico e não controlar déficits orçamentários.

Por sua vez, Mnuchin insiste que os cortes de impostos se pagarão completamente. A questão é que a maior parte dessa compensação provavelmente viria da antecipação da aceleração da economia - e seu impacto sobre a arrecadação - e não de mudanças na legislação tributária, como a eliminação de deduções.

Até alguns economistas correligionários de Trump no Partido Republicano expressam ceticismo. Para Donald Marron, que serviu no Conselho de Assessores Econômicos do ex-presidente George W. Bush, a estimativa do governo Trump para os efeitos favoráveis da redução de impostos é "surpreendentemente grande", embora ele tenha admitido não conhecer todos os detalhes do plano.

Em fevereiro, Yellen disse a parlamentares que o banco central não necessariamente responderia a um pacote de corte de impostos com acréscimos maiores nos juros.