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Análise: Geração Y buscará política nos EUA, não startups

Conor Sen

27/04/2017 15h06

(Bloomberg) -- Ainda há um longo caminho pela frente até as eleições legislativas de 2018 nos EUA, mas já existe um interesse maior. O fenômeno se dá não apenas entre as pessoas que acompanham as campanhas políticas, mas também dentro de um grupo excepcionalmente elevado de pessoas que cogitam concorrer a cargos públicos. Há bons motivos para isso. Cargos eletivos são o equivalente moderno a criar uma empresa de tecnologia no fim dos anos 2000 -- uma aposta no poder, e com chances mais favoráveis.

A explosão das startups de tecnologia, que começou no fim dos anos 2000 e perdeu força nos últimos anos, se deveu a uma combinação de forças tecnológicas, econômicas e demográficas. A oportunidade tecnológica veio por causa do crescimento explosivo simultâneo das redes sociais e da internet móvel que resultou do desenvolvimento dos smartphones. Facebook, Google e Apple podem ter criado as plataformas sociais e de smartphones dominantes que todos usamos hoje, mas não foram os únicos beneficiários. Empresas de jogos como Zynga e King Digital, produtoras do Farmville e do Candy Crush, empresas de transporte compartilhado como Uber e Lyft, plataformas de redes sociais como Instagram e Snapchat e muitas outras startups devem sua existência ao crescimento das redes sociais e da internet móvel.

Mas toda essa tecnologia não foi criada no vácuo -- as consequências econômicas da grande recessão também foram responsáveis por estimular o espírito empreendedor dos EUA. Com o índice de desemprego perto de 10 por cento, e ainda maior entre os trabalhadores mais jovens, o custo da oportunidade de tentar a sorte com uma startup era baixo. No caso dos empreendedores, os aluguéis de escritórios e os salários pós-recessão eram baixos, o que permitia que o dinheiro levantado com capitalistas de risco fosse bastante útil. Pelo lado dos capitalistas de risco, as condições restritas de crédito permitiram que se envolvessem desde o início com startups atraentes com baixas avaliações.

Contudo, nada disso teria sido possível sem pessoas. Naquela oportunidade, a maior dificuldade para a geração Y, aquela nascida entre o fim dos anos 1980 e o começo dos anos 1990, era entrar na universidade e no mercado de trabalho. Essa situação ofereceu um fluxo constante de jovens -- alguns interessados em trabalhar em startups de tecnologia, e muitos outros interessados em consumir os produtos e serviços dessas empresas.

As startups estão esfriando em parte porque o ambiente mudou. Em vez de criar novas plataformas, como o Facebook fez, as novas empresas agora se veem competindo com nomes como Facebook, o que é uma tarefa difícil. A expansão econômica dos últimos anos aumentou o custo de oportunidade para os trabalhadores que pensam em trabalhar para uma startup; está mais arriscado tentar a sorte com opções em ações em um momento em que grandes empresas como Facebook e Google oferecem salários atraentes. E os empreendedores se veem tendo que pagar aluguéis de escritório e salários muito mais elevados do que em 2009 ou 2010. No momento, a fronteira das redes sociais e da internet móvel pode ter fechado.

Em 2008, um jovem poderia se imaginar ficando rico com uma startup de tecnologia. Agora isso parece pouco plausível, mas subir na hierarquia política soa imaginável. Em 2017, as condições estão dadas para um aumento sem precedentes do número de pessoas que buscarão concorrer a um cargo público.

Parte do apelo de concorrer a um cargo público em 2018, pelo menos do lado democrata, é o alto nível de atenção e envolvimento financeiro que a base do partido já está mostrando após a eleição do presidente Donald Trump. Jon Ossoff, candidato democrata pela primeira vez na eleição especial do 6º distrito congressional da Geórgia, levantou mais de US$ 8 milhões para uma fase preliminar recentemente concluída da disputa, que caminha para se tornar a corrida congressional mais cara da história. A vasta maioria do dinheiro veio de fora do estado, boa parte dele captado por meio de campanha virais nas redes sociais. Antigamente, para administrar uma campanha congressional bem-sucedida, um candidato podia necessitar de uma série de apoios da imprensa local e de políticos eleitos, além do respaldo financeiro de pessoas ricas e poderosas da comunidade. Hoje, aparentemente, qualquer candidato e qualquer campanha têm potencial de pegar fogo e viralizar nacionalmente.

Existe aqui também um componente demográfico. A mesma safra de pessoas que estavam perto dos 20 anos após a grande recessão está crescendo e agora tem idade suficiente para concorrer a cargos públicos, como Ossoff, de 30 anos -- e seu grupo pode votar por eles da mesma foram que os jovens consumiram os produtos da Zynga e do Snapchat. Ao mesmo tempo, a maioria dos políticos e líderes eleitos do Partido Democrata está se aproximando da aposentadoria. Nancy Pelosi tem 77 anos. Bernie Sanders, 75. Elizabeth Warren, 67. Se você é uma pessoa ambiciosa perto de fazer 30 anos, o que é mais provável: que você desbanque as empresas de Mark Zuckerberg e Jeff Bezos ou que você cresça dentro do Partido Democrata no decorrer de alguns ciclos eleitorais em um momento em que a liderança do partido está se aposentando e que a geração pós-Segunda Guerra está encolhendo enquanto parcela do eleitorado?

Assim como é verdade que a explosão das startups de tecnologia gerou apenas um punhado de megavencedores, o mesmo vale para essa explosão eleitoral. Mas isso não significa que essas novas elites políticas serão as únicas beneficiárias. Existe apenas um Mark Zuckerberg, mas o Facebook criou milhares de empregos e é uma plataforma utilizada por um bilhão de pessoas atualmente. Uma nova onda cívica poderia eleger apenas algumas dezenas entre as centenas de pessoas que estão concorrendo a cargos públicos, mas a nova geração pode se conformar com a certeza de que seus valores serão mais ouvidos no Congresso do que os da geração atual, que parece não conseguir fazer nada.

A tendência é clara. A nova classe dominante da tecnologia já ganhou sua fatia. Mas e quanto ao governo? É uma disputa em aberto.

Essa coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.