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Galerias para super-ricos incorporam obras da revolta populista

James Tarmy

28/04/2017 14h13

(Bloomberg) -- Em meio a manchetes sobre o caos legislativo nos EUA, o Brexit "duro" e a ascensão da direita nacionalista na eleição francesa, centenas de marchands estão se preparando para aterrissar em Nova York para a semana da Frieze, na tentativa de vender obras de arte que muitas vezes custam mais do que o que um trabalhador americano médio ganha durante toda a vida.

Algumas galerias da feira de arte Frieze New York (de 5 a 7 de maio) tentarão chegar a um delicado equilíbrio entre política e comércio abordando questões sociopolíticas de frente. "Existe uma tendência interessante de galerias com estandes exclusivamente femininos", disse Victoria Siddall, diretora da feira. "A galeria [Nova York] Cheim & Read fará uma apresentação sobre a cor rosa que rende homenagem à marcha das mulheres."

Outras galerias da Frieze vão apresentar arte de protesto. A galeria P.P.O.W., com sede em Nova York, exibirá obras de Martin Wong, David Wojnarowicz e Anton van Dalen, cuja enorme gaiola para pombos com forma de carro faz uma referência a carros queimados e abandonados. A Maureen Paley Gallery, com sede em Londres, exibirá obras de Wolfgang Tillmans, um artista que fez campanha ativa contra o Brexit.

"É uma plataforma -- e um mercado -- extremamente importante para as galerias mostrarem as obras", disse Siddall.

Situação incerta

"As feiras sempre foram um elemento importante para saber para onde o mundo da arte está indo", disse Mathias Rastorfer, um dos donos da Galerie Gmurzynska, com sede em Zurique. A galeria fará uma exibição na semana que vem na TEFAF (de 4 a 8 de maio, na Park Avenue Armory), uma feira onde as galerias tradicionalmente exibem antiguidades, design e obras-primas do século 20. Neste ano, Rastorfer disse que sua galeria apresentará obras com grau de investimento, mas também atenderá um mercado que desacelerou marcadamente após atingir picos em 2014. "Como lidar com uma situação onde, por um lado, há uma insegurança política extrema, mas por outro, Wall Street está em expansão e há muita liquidez disponível?", perguntou Rastorfer.

O estande de Rastorfer, concebido pelo designer francês Alexandre de Betak, contará com obras de artistas como Fernand Léger, Kurt Schwitters e Robert Indiana, cujos preços vão de US$ 300.000 a cerca de US$ 5 milhões.

Os marchands notaram que alguns colecionadores reduziram seus hábitos de compra (mas não pararam). "O fato de [o mercado de arte] estar desacelerando um pouco o torna mais sério novamente", disse Boris Vervoordt, diretor da galeria belga Axel Vervoordt Gallery, que terá estandes nas duas feiras. "Isso permite que as pessoas pensem mais", disse ele. "E tomem decisões melhores."

Alguns marchands estão adotando a posição de esperar para ver. Adam Sheffer, sócio da Cheim & Read (cujo comunicado de imprensa informa que seu estande, com obras de Louise Bourgeois, Jenny Holzer e Lynda Benglis, é "uma homenagem à marcha das mulheres e ao mar de chapéus cor-de-rosa"), escreveu em um e-mail que "embora ainda estejamos nos primeiros dias do novo governo, qualquer previsão sobre como possíveis políticas ou reformas podem impactar o mercado da arte são muito especulativas". Parece, continuou Sheffer, "que apesar de certa complexidade política, o mercado está se instalando em um lugar responsável e confortável".