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Antes fugitivo, bilionário quer virar Jeff Bezos da Rússia

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Irina Reznik e Ilya Khrennikov

05/05/2017 12h00

(Bloomberg) -- Há uma década, Mikhail Gutseriev era um fugitivo bilionário que tentava escapar do destino de seu compatriota russo, o titã do petróleo Mikhail Khodorkovsky, que teria feito pouco caso do poder de Vladimir Putin e foi condenado a 10 anos de prisão.

Com a ordem de não sair do país depois que as autoridades tributárias de Moscou começaram a fazer batidas em seus escritórios, Gutseriev vendeu sua empresa petrolífera Russneft a um oligarca bem relacionado com o Kremlin por quase US$ 3 bilhões, anunciou que se aposentaria dos negócios e, em julho de 2007, cruzou a fronteira da Bielorrússia antes que um mandato de prisão fosse emitido.

Depois que ele saiu do país, todos, de estrategistas de bancos a comentaristas de TV, imediatamente declararam sua morte comercial. Mas eles subestimaram a sagacidade, o encanto e as conexões que fizeram do astuto magnata o negociador por excelência durante as guerras da Chechênia nos anos 1990 e começo da década de 2000, quando ele ajudou a libertar quase 200 reféns de bandos de rebeldes islamitas que exigiam resgates.

Desde seu retorno em 2010, quando as acusações contra ele foram retiradas subitamente, o bilionário fez uma série de compras. Ele comprou de volta a Russneft de Oleg Deripaska, montou uma outra empresa petrolífera, entrou no mercado de carvão, potássio e rádio, e adquiriu hotéis como The National, perto da Praça Vermelha --tudo isso com dinheiro emprestado, principalmente, pelos bancos estatais Sberbank e VTB Group. Não está claro exatamente como ele voltou a cair nas graças do Kremlin.

Com uma fortuna perto do máximo sem precedentes de US$ 4,7 bilhões, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index, Gutseriev, que afirma ser um empreendedor compulsivo, agora embarca no que ele considera ser seu mais ambicioso projeto: tentar construir uma versão russa da Amazon de Jeff Bezos.

"Estamos criando uma plataforma virtual para vender de tudo, menos alimentos e roupas", disse Gutseriev em uma entrevista em Moscou no mês passado, depois de ter conseguido aprovação antitruste para adquirir a M.video, principal vendedora de produtos eletrônicos e eletrodomésticos da Rússia.

'Orquestra de um homem só'

A compra de 58 por cento da M.video por US$ 726 milhões, fechada na semana passada, dá a Gutseriev o controle de um quarto de um mercado que se reduziu à metade em dólares durante os últimos três anos, chegando a US$ 25 bilhões em 2016, de acordo com a empresa de pesquisa GfK. Gutseriev disse que entrou por acaso no setor varejista em 2015, quando a Tekhnosila, uma concorrente de menor porte da M.video, não conseguiu liquidar uma dívida com o banco de sua família, B&N, durante o pior momento da recessão mais longa em duas décadas.

Esse calote, disse ele, levou-o a pensar em usar as abrangentes redes de abastecimento das grandes lojas para criar um mercado virtual em que os consumidores possam buscar os pedidos nos pontos de venda existentes que já contem com espaços de armazenamento amplos. Ele prescindirá do sistema de correio, que é inferior ao de economias avançadas.

Em dezembro, Gutseriev adquiriu outra concorrente da M.video, Eldorado, por cerca de 26 bilhões de rublos (US$ 450 milhões). Juntas, as três redes têm mais de 900 pontos espalhados por 11 fusos horários, de Kaliningrado, enclave russo na Europa, a Kamchatka, na Ásia oriental.

"Ele é uma orquestra de um homem só", disse o bilionário Vladimir Evtushenkov, aliado do ex-presidente russo Dmitry Medvedev e ex-acionista da Russneft que ajudou a acabar com o exílio de Gutseriev. "Ele consegue fazer muitas coisas ao mesmo tempo."