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Carros da atualidade nos EUA são todos velozes e furiosos

Kyle Stock e David Ingold

17/05/2017 14h22

(Bloomberg) -- Em algum momento nos próximos meses, o Dodge Challenger SRT Demon e seus 808 cavalos de potência aparecerão nas vitrines das concessionárias como uma espécie de minúscula fábrica de derretimento de pneus vermelha. Sim, 808 cavalos. Não foi erro de digitação.

Os adolescentes vão perder a cabeça. Os mais velhos também. Mas tirando o fã clube de Vin Diesel, na verdade a força já não é algo tão importante assim. No ano passado, os motoristas dos EUA que buscavam mais de 600 cavalos tinham 18 modelos para escolher, incluindo um sedã Cadillac que parece mais ostentoso do que irritado. Enquanto isso, até mesmo os chatos sedãs de quem usa o carro para ir ao trabalho registram especificações de força que teriam sido inéditas durante o governo de Gerald Ford.

Os cavalos estão correndo em liberdade na indústria automobilística.

Nós analisamos quatro décadas de dados dos testes de emissões da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês) e chegamos a uma conclusão simples: todos os carros da atualidade são velozes e furiosos -- até mesmo os da categoria truck.

Se um motorista de 1976 de alguma forma pudesse dirigir um carro de 2017, ele correria um grave risco de lesionar o pescoço. De lá para cá, os cavalos de potência quase dobraram nos EUA, sendo que a mediana entre os modelos subiu de 145 para 283. Não é surpresa que toda a frota dos Estados Unidos tenha se tornado mais apta para uma corrida de arrancadas: a mediana de tempo necessária para um veículo acelerar de 0 a 60 milhas por hora (96 km/h) caiu pela metade, de quase 14 segundos para sete.

Quatro décadas atrás, havia um carro de produção nos EUA que alcançava 285 cavalos de potência -- o Aston Martin DBS. Ele tinha aberturas no capô que pareciam uma enorme boca cheia de dentes e 75 pôneis a mais que um Chevrolet Corvette. Hoje, mais da metade dos carros e picapes à venda ostentam tanta força quanto ou mais, incluindo o tímido Kia Sorento. Um Aston Martin Vanquish, enquanto isso, alcança 568 cavalos de potência, quase o dobro da força de seu ancestral.

Claro, seria de esperar que a engenharia automobilística avançasse ao longo das décadas como qualquer tecnologia, mas a aceleração dos últimos tempos impressionaria Don Garlits.

"Tem sido muito emocionante", disse Bob Faschetti, chefe de engenharia de transmissão da Ford Motor. "Se olharmos para trás para o grau de mudança dos últimos cinco ou seis anos em comparação com os cinco ou seis anteriores ou ainda com os cinco ou seis antes desse período, a mudança é drástica."

Enquanto os veículos estão ficando mais poderosos, seus motores vêm diminuindo. Além disso, a frota como um todo está rodando mais por litro, graças em parte aos motores elétricos.

Os motores de combustão das ruas dos EUA são cerca de 42 por cento menores do que há 40 anos. Ao mesmo tempo, a medida mediana de milhas por galão da EPA dobrou, de 15 para 30 (6,38 a 12,75 quilômetros por litro). A maioria desses ganhos foi obtida por pressão das exigências federais de eficiência. O grande empurrão em termos de potência começou em 1985, logo depois que o setor atingiu um limite de 27,5 milhas por galão (11,69 quilômetros por litro).