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CEOs brasileiros defendem foco em reformas em meio a crise

Fabiola Moura

23/05/2017 12h38

(Bloomberg) -- A elite empresarial do Brasil estava muito próxima de vitórias legislativas buscadas há tempos para desburocratizar as leis trabalhistas e reformular o sistema previdenciário. O último escândalo político está colocando esses sonhos em perigo.

Em entrevistas, muitos dos principais CEOs do Brasil pediram que os parlamentares se concentrem nas reformas que afirmam ser muito necessárias e evitem as distrações da crise política que envolve o presidente Michel Temer. O Ibovespa caiu 8,7 por cento desde 17 de maio, quando Temer se viu na mira de uma abrangente investigação de corrupção apenas 12 meses após assumir o lugar de sua antecessora impedida.

"Minha maior preocupação não é se o Temer vai permanecer presidente ou não", disse o co-CEO da MRV Engenharia & Participações, Eduardo Fischer, em entrevista por telefone. O imperativo, para ele, é que "a gente tenha uma visão clara do Brasil no futuro".

A MRV, uma construtora com sede em Belo Horizonte, caiu 9,6 por cento no pregão em São Paulo desde o surgimento da crise. Assim como outros CEOs, Fischer via as reformas trabalhista e previdenciária como uma forma de tirar das empresas o peso das regulações, gerar empregos e reduzir disputas com trabalhadores.

O projeto de reforma trabalhista apoiado por Temer foi aprovado na Câmara dos Deputados no mês passado e ainda está tramitando no Senado. A medida permite negociações diretas entre trabalhadores e empregadores e oferece mais flexibilidade em relação a feriados e horas extras. O projeto de reforma da previdência, que aguarda votação na Câmara no mês que vem, foi redigido para economizar cerca de US$ 200 bilhões ao longo de 10 anos ao fixar idades mínimas para aposentadoria e exigir pelo menos 40 anos de contribuições para que se receba benefício integral.

O governo Temer havia defendido ambas as medidas, ajustando os projetos de lei para conseguir mais apoio. E os mercados têm monitorado o processo legislativo atentamente. O Ibovespa e o real caíram na segunda-feira depois que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse a um grupo de investidores que a reforma da previdência poderia ser adiada por alguns meses, segundo o jornal O Globo.

"É fundamental a manutenção da atual política econômica e da luta obsessiva pelas reformas", disse Antonio Carlos Pipponzi, presidente do conselho da rede de drogarias Raia Drogasil e presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo, em entrevista por telefone. "Acho que o cronograma vai mudar, sim, mas não perdi as esperanças. Se nós, líderes empresariais, não lutarmos por isso, ninguém mais vai."

Antes mesmo da última crise política, a reforma da previdência era algo difícil de engolir para os brasileiros, e as pesquisas mostraram que quase três quartos dos entrevistados se mostravam contrários à proposta. Os sindicatos organizaram uma greve geral semanas atrás para protestar contra o projeto. A agitação em Brasília aumenta a tensão, já elevada.

"Cenário político muito delicado, com forte instabilidade e muitas incertezas", disse Claudia Sender, presidente da holding Latam Airlines Brasil. "Neste momento, é fundamental preservar a segurança institucional para que seja possível imprimir ao país um ritmo de volta para o crescimento e de confiança para toda a sociedade."