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Análise: O curioso caso do rebaixamento da China pela Moody's

Andy Mukherjee

24/05/2017 14h07

(Bloomberg) -- Não causou surpresa a decisão da Moody's Investors Service de rebaixar a classificação de risco soberano da China em um nível, para A1. Desde março do ano passado, quando a agência de classificação e sua rival S&P Global Ratings pioraram suas perspectivas para as dívidas emitidas pela República Popular da China, o desfecho mais provável era o eventual rebaixamento.

Mas a decisão não deve ter sido fácil, considerando a bronca do ministro das Finanças do país na reunião do Grupo dos 20 no ano passado, quando afirmou que a avaliação tinha "viés".

O momento da decisão também é curioso por ser vergonhosamente próximo do encontro dos principais políticos da China no mês que vem, com o intuito de "manter a segurança do mercado financeiro nacional". O desaparecimento de US$ 450 bilhões dos mercados de ações e títulos da China em poucos dias e também os quase US$ 50 bilhões em liquidez que o banco central injetou para acalmar o mercado de crédito de curto prazo mostram que os investidores levam a sério a resolução do presidente Xi Jinpingn de extrair o excesso de alavancagem da economia.

Assim, a Moody's deu a cara a tapa ao afirmar que o programa de reformas provavelmente vai desacelerar, mas não impedir, o aumento do endividamento.

Deixando a bravura de lado, será que a Moody's está sendo muito pessimista?

A dívida pública só é problema na China porque o setor corporativo está sobrecarregado. Há um ano, em sua maioria, os títulos de dívida que receberam nota AAA das agências chinesas de classificação ? sempre mais entusiasmadas ? eram na verdade papéis de alto risco, ou "junk", segundo a pontuação de crédito usada pela Bloomberg. Atualmente, apenas 14 dos 127 títulos desse tipo (ou 11 por cento) estão na categoria de risco.

A situação parece ter melhorado para a dívida corporativa na China, não piorado.

Além disso, se a mudança na nota soberana do Japão servir como referência, os investidores têm motivo para ignorar a notícia desta quarta-feira.

O custo para proteger contra calote US$ 10 milhões em dívida japonesa por cinco anos hoje é aproximadamente US$ 25.000 ? metade do que os investidores precisavam pagar quando a Moody's rebaixou a classificação do Japão em um nível, para A1, em dezembro de 2014.

No caso da China, parece que Moody's e S&P erraram ao elevar as dívidas de Pequim ao território AA no final de 2010.

Aquilo aconteceu um ano e meio depois do profético alerta da Fitch Ratings de que "o aumento acentuado da exposição corporativa" no setor bancário, ao longo do tempo, "prejudicaria a capacidade de pagamento das corporações tomadoras de crédito". Aliás, a Fitch não mexe na noTA soberana da China há quase uma década e, portanto, não precisa se preocupar em dar meia-volta agora.

As outras duas agências não têm escolha. Não fazer nada e torcer para que a realidade se encaixe nas expectativas nem sempre dá certo. A S&P fez esta constatação nesta semana, quando precisou elevar a classificação da Indonésia para grau de investimento - cinco anos após suas concorrentes.

Porém, qualquer alívio duraria pouco. Agora que a Moody's se movimentou em relação à China, a bola passou para a S&P. Então, é preciso perguntar: Quanto da conversa sobre notas soberanas se deve à capacidade de pagamento dos países e quanto se deve à rivalidade entre as agências?

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião da Bloomberg LP e seus proprietários.