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ING critica baixa volatilidade cambial pré-aperto monetário

Kartik Goyal

25/05/2017 11h43

(Bloomberg) -- A estabilidade das moedas de mercados emergentes pode ser a calmaria que antecede a tempestade, de acordo com o ING Groep.

Uma métrica das expectativas de oscilação das moedas de países em desenvolvimento está próxima do menor nível desde 2014, ignorando a turbulência política nos EUA e no Brasil e as preocupações em relação ao crescente endividamento da China (que provocou rebaixamento da classificação de risco soberano). Como pano de fundo, o Federal Reserve deve elevar a taxa básica de juros nos EUA em junho e o Banco Central Europeu também pode tomar medidas para reduzir o estímulo monetário.

"Este é um ambiente de Cachinhos Dourados para os mercados de câmbio de países emergentes, embora a volatilidade pareça baixa demais antes dos eventos do BCE e do Fed", afirmou o estrategista de câmbio do ING, Viraj Patel, que trabalha em Londres. "Os dois bancos centrais podem sair à frente com alterações em suas respectivas políticas para o balanço patrimonial e isso pode criar uma tempestade perfeita na curva de longo prazo nos mercados globais."

O BCE vem debatendo internamente quando e como iniciar a redução dos estímulos e o aumento dos juros. Pesquisadores da instituição alertaram no mês passado que os mercados emergentes devem se preparar para o aumento da volatilidade quando os principais bancos centrais ajustarem o tamanho de seus balanços patrimoniais.

O ceticismo de Patel não faz tanto sentido para gestores e estrategistas da Aberdeen Asset Management, da Amundi Asset Management ou do Mizuho Bank. Para eles, o ritmo lento de aumento nos custos de captação nos países desenvolvidos e a melhora da economia em muitos emergentes continuarão atraindo investidores em busca de rendimento para os ativos mais arriscados.

"A média do saldo em conta corrente dos países emergentes está no melhor nível em quase 10 anos e esperamos que o ambiente de acomodação permaneça mesmo com o Fed continuando a normalizar os juros", afirmou Abbas Ameli-Renani, estrategista global para mercados emergentes da Amundi em Londres. "A observação histórica mostra que, ao passo que os saldos em conta corrente dos emergentes melhoram, diminui a sensibilidade de seus ativos aos juros nos mercados desenvolvidos."

'Má notícia'

Para Edwin Gutierrez, responsável por dívida soberana de mercados emergentes da Aberdeen em Londres, os possíveis movimentos do Fed e do BCE já foram "bem telegrafados".

"Somente comentários no sentido de uma política monetária agressiva poderiam assustar o mercado", ele disse. A estabilidade nas moedas de países emergentes está fortemente ligada "à fraqueza do dólar, com o desmonte de apostas na retomada da economia americana por meio das medidas de Trump", ele disse.

A ata da reunião de política monetária do Federal Reserve de 2 e 3 de maio, divulgada na quarta-feira, sinalizou acréscimo nos juros já no encontro marcado para meados de junho. No entanto, o dólar se desvalorizou com a ressalva dos integrantes do comitê de que "seria prudente" aguardar evidências de que a recente desaceleração da atividade econômica foi transitória.

O estrategista de câmbio Ken Cheung, que trabalha para o Mizuho em Hong Kong, também citou o "colapso" da aposta na retomada da economia americana devido a medidas do presidente Donald Trump. Ele prevê que as oscilações nas moedas de países emergentes ficarão ainda menores.

"O mercado de câmbio também digeriu o plano de Fed de fazer três acréscimos nos juros e encolher seu balanço patrimonial", ele disse.

Ainda assim, a reação contida dos investidores ao rebaixamento da classificação de risco da China pela Moody's Investors Service na quarta-feira parece corroborar a visão de Patel.

"A China é um dos muitos riscos globais extremos que existem - o impeachment de
Trump, a geopolítica e o potencial encerramento do afrouxamento monetário global também precisam ser considerados", ele disse. "O recado do mercado é que está ciente dos riscos, mas precisa haver intensificação de qualquer um deles para as preocupações aumentarem. Esta é uma estratégia arriscada - basta uma má notícia para te pegar."