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Manifestantes queimam prédios do governo e Temer enfrenta revolta

Samy Adghirni, Mario Sergio Lima e Simone Iglesias

25/05/2017 12h05

(Bloomberg) -- Os protestos contra o presidente Michel Temer geraram cenas de violência em Brasília na quarta-feira. Os manifestantes incendiaram o edifício do Ministério da Agricultura, destruíram prédios do governo e entraram em confronto diversas vezes com a polícia, levando o Executivo a convocar as Forças Armadas.

O surto de violência -- o pior a atingir Brasília em anos -- aumentou a pressão sobre Temer justamente quando o presidente tenta sufocar, dentro de seu próprio partido, uma rebelião de parlamentares que querem tirá-lo do poder após o surgimento de graves acusações de corrupção da semana passada.

Em paralelo aos protestos, dentro do Palácio do Planalto, aliados do governo debatiam se deveriam permanecer na base de um presidente cada vez mais acuado. A melhor solução para a remoção de Temer, investigado pela Procuradoria-Geral da República sob acusações de corrupção e obstrução à Justiça, é que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anule o resultado da eleição de 2014, na qual dividiu chapa com a presidente cassada Dilma Rousseff, segundo vários parlamentares do partido de Temer, o PMDB, que conversaram com a Bloomberg News. Em 6 de junho, o TSE retomará o caso sobre o suposto financiamento ilegal de campanha.

As cenas de violência de quarta-feira tiveram impacto nos mercados financeiros e desafiaram a visão otimista do governo de que Temer conseguiria reconstruir sua base aliada e avançar com a agenda de reformas econômicas que os investidores consideram essencial para corrigir as contas públicas do País e para ajudar a tirar a maior economia da América Latina da recessão.

A decisão de recorrer às Forças Armadas também gerou críticas de parlamentares e de um juiz do Supremo Tribunal Federal (STF), que questionaram a medida devido ao histórico do Brasil com o Exército. O decreto levou parlamentares a trocar socos, o que resultou na suspensão de uma sessão parlamentar pela segunda vez em dois dias.

Revolta

Temer se reuniu com senadores do PMDB na manhã de quarta-feira para tentar acalmar os dissidentes. Após a reunião, um assessor de Temer disse que os rebeldes representam apenas um punhado dos senadores do partido.

Mas alguns parlamentares de outros partidos aliados dividem as mesmas preocupações. O maior integrante da base aliada do governo, o PSDB, também se reuniu para discutir seu futuro na base aliada. Após o encontro de quase de três horas, o presidente interino do partido, senador Tasso Jereissati, disse a jornalistas que sua principal preocupação era a estabilidade do País.

O Brasil foi sacudido na semana passada pela notícia da investigação contra Temer, autorizada pelo STF, por acusações de corrupção passiva e obstrução da justiça, dias antes da data programada pelo Congresso para a votação do projeto de reforma da Previdência, considerado fundamental para os esforços do governo de equilibrar as contas públicas e tirar a economia da recessão.

Alguns dos parlamentares dissidentes disseram à Bloomberg News que preferem uma renúncia negociada, na qual Temer concorde em não obstaculizar possíveis decisões judiciais contra ele com apelações. O senador Renan Calheiros, atual líder do PMDB no Senado, se tornou o principal defensor de uma "saída negociada" de Temer.

Mas Temer, um político de carreira de 76 anos de idade, se recusa a ceder. Ele afirma que as acusações contra ele foram inventadas e as provas, forjadas.

Parlamentares de oposição apresentaram diversos pedidos de impeachment contra o presidente. A influente OAB pretende apresentar seu próprio pedido nesta quinta-feira. Para avançar, qualquer um dos pedidos precisará ser aceito pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Em comentários a jornalistas, na quarta-feira, ele pediu paciência. "Não posso avaliar uma questão tão grave num 'drive-thru'", disse ele. "Não é uma decisão que se tome da noite para o dia."

Possíveis substitutos?

Outro fator que dá tempo a Temer é a falta de consenso sobre um possível substituto. Pela lei atual, se Temer deixar o cargo, o Congresso elegerá um presidente interino, que ocupará o cargo até as eleições gerais de outubro de 2018.

Entre os nomes discutidos nos salões e elevadores do complexo modernista que abriga o Congresso em Brasília estão Tasso Jereissati, do PSDB; o ex-presidente do STF Nelson Jobim; o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; e a atual presidente do STF, Cármen Lúcia Rocha. O atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia, também foi sugerido por parlamentares importantes como alternativa.

Para ajudar a reconstruir o apoio entre os parlamentares e seus eleitores, Temer vai propor um pacote de bondades que inclui aumentos salariais para auditores fiscais, refinanciamento de dívidas para pequenas e médias empresas, além de regulamentações de ordenamento de terras pedidas por fazendeiros.