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Chavistas expatriados viram alvo de zombaria e ataques

Fabiola Zerpa e Nathan Crooks

30/05/2017 12h12

(Bloomberg) -- A fúria dos venezuelanos é global. Roy Chaderton, membro sênior do serviço diplomático do país, descobriu isso quando jogaram lixo nele em uma rua de Madri.

Um vídeo circulou pelos sites de redes sociais. Assim como outro em que Eugenio Vásquez Orellana, presidente do Banco da Venezuela na época do falecido Hugo Chávez, foge de uma padaria em Miami enquanto as pessoas gritam "fora". Expatriados berraram "assassina" a Maripili Hernández, ex-ministra de Chávez, em Barcelona e perseguiram a filha do prefeito de Caracas, Jorge Rodríguez, por Bondi Beach em Sidney, incidentes registrados por smartphones.

É o "escrache", palavra do espanhol cuja tradução aproximada seria esculacho. Neste caso, a humilhação pública de pessoas conectadas ao governo do presidente Nicolás Maduro ou de seu antecessor e mentor, Chávez.

Venezuelanos que assistem à distância como seu país natal é sacudido por manifestações diárias, nas quais pelo menos 54 pessoas morreram, estão empregando a tática para protestar contra a fome generalizada e ao alto índice de criminalidade que assolam o país após 18 anos de governo socialista. Os chavistas levaram o país para um colapso econômico inédito na história moderna, e muitas pessoas do governo ou vinculadas a Maduro foram acusadas pelos EUA de cometer atividades criminosas, como tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

Os ativistas do esculacho têm um público cativo no Twitter, Instagram e WhatsApp espalhado pelo mundo, como Nillson Castillo, advogado de 26 anos que trocou Caracas por Santiago do Chile em setembro. "Eu me sinto bem quando vejo pessoas apontando quem roubou a Venezuela", disse ele. Em momentos de dúvida ou culpa por ver alguém ser humilhado, Castillo disse que lembra da bagunça em que o país está.

Na Venezuela, as redes sociais fervilham com publicações e imagens com a hashtag #escrache. O embaixador na Suíça foi insultado em um supermercado, um líder do Movimento Quinta República de Chávez foi vaiado em uma conferência sobre direitos humanos no Líbano. Um mapa do Google que pretende mostrar onde familiares de membros do governo Maduro moram em todo o mundo circulou instantaneamente pelas salas de bate-papo.

Esse é um dos pontos onde o esculacho se torna polêmico: quando pessoas sem conexões com chavistas, exceto por laços familiares ou de amizade, se tornam alvos. Freddy Guevara, um legislador da oposição, alertou sobre ir longe demais.

"Isso vai causar polêmica, mas preciso falar com clareza: não é correto nem ético assediar os filhos de funcionários do governo", disse ele no Twitter. Ele fez o comentário após a publicação do vídeo com a filha do prefeito de Caracas, um simpatizante de Maduro; uma mulher que a perseguia gritava: "Deve ser bom morar aqui enquanto eles estão matando estudantes. Responda! Tem gente morrendo por causa de seu pai!".

A prática não passou despercebida por Maduro, que em um discurso em 19 de maio descreveu a estratégia como "parte da intensificação fascista" de perseguição e declarou: "Somos os novos judeus do século 21".