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Países do BRIC voltam a atrair investidor internacional

Ben Bartenstein e Aline Oyamada

19/06/2017 12h43

(Bloomberg) -- A retomada do crescimento econômico está ressuscitando uma das apostas preferidas da década passada.

Investidores de mercados emergentes voltaram a comprar ativos dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), aumentando os fluxos mensais de investimento em fundos dedicados a ativos do grupo, assim como o preço das ações desses países, para próximo dos maiores níveis em dois anos.

O raciocínio é que a aceleração da economia global vai aumentar a demanda pelas commodities exportadas por esses países, incentivar a expansão do consumo da classe média e ajudar a equilibrar as contas públicas.

Atraídos pelos esforços da Índia de simplificar sua regulação, pela recuperação da economia brasileira, pelo impacto positivo para a Rússia da estabilização dos preços do petróleo e pela valorização da moeda da China, investidores voltaram a se animar com os rendimentos mais altos pagos pelos títulos desses países e com a melhora da perspectiva para as ações nestes países.

Perda amarga

Trata-se de uma reversão radical no apetite pelo grupo, após a perda de 40% amargada pelo maior fundo negociado em Bolsa voltado para ativos dos BRIC entre o final de 2012 e o começo de 2016.

Nesse período, o Brasil perdeu o grau de investimento, o crescimento da China deixou de apresentar ritmo meteórico, a receita gerada pela Rússia com petróleo desabou e o déficit em conta corrente da Índia se alargou.

"Fundamentos melhores, valorizações atraentes e rendimentos elevados em um mundo faminto por rendimento tornam os mercados emergentes atraentes novamente, incluindo alguns dos BRIC", afirmou Jens Nystedt, gestor do Morgan Stanley Investment Management que supervisiona US$ 417 bilhões em ativos em Nova York, em entrevista por email.

Os fluxos de entrada de capital estrangeiro em ativos dos BRIC aumentaram para US$ 166,5 bilhões no mês passado, comparado a uma saída de US$ 28,3 bilhões um ano antes, segundo dados compilados pelo Instituto de Finanças Internacionais e pela EPFR Global. A entrada trimestral de recursos no mercado acionário da China foi a maior em dois anos e, no caso da Índia, as aplicações em títulos de dívida foi a maior em quase três anos, segundo dados da Bloomberg.

Mark Mobius, presidente da Templeton Emerging Markets Group, tem preferência por Brasil, China e Índia. Ele acrescenta que a Rússia também vai se beneficiar da retomada do crescimento econômico.

Os ativos brasileiros vão avançar ao passo que a economia deixa para trás dois anos de contração e os investimentos na China vão se acelerar à medida que as reservas internacionais se recuperam após atingirem em janeiro o menor patamar em seis anos, de acordo com Steve Hooker, que ajuda a supervisionar US$ 12 bilhões como gestor de ativos de mercados emergentes da Newfleet Asset Management.

Crescimento mais rápido

O termo BRIC foi cunhado em 2001 pelo economista Jim O'Neill, que na época trabalhava no Goldman Sachs, e se tornou uma sigla popular para as economias emergentes de maior crescimento. Mais tarde, alguns investidores trouxeram a África do Sul ao grupo e acrescentaram a letra S (de South Africa) ao final da sigla.

Na década encerrada em 30 de dezembro de 2012, as bolsas dos países em desenvolvimento proporcionaram retorno anual de 17%, o dobro do oferecido pelas nações desenvolvidas.

Isso mudou depois que o banco central dos EUA (Federal Reserve) anunciou a retirada gradual dos estímulos monetários e surgiu o temor de que os Cinco Frágeis (grupo que incluía Brasil e Índia) teriam dificuldade para cobrir suas necessidades de financiamento externo. O Goldman Sachs encerrou seu fundo voltado para os BRIC em outubro de 2015, após perder 88% do valor de seus ativos desde que atingiu o pico em 2010.

Neste ano, o Goldman sinalizou uma volta parcial, recomendando que os investidores se "mantenham na rota" com apostas nas moedas do Brasil, Rússia e Índia.

No mês passado, O'Neill (que mais tarde assumiu a Secretaria de Comércio do Tesouro do Reino Unido) afirmou que os temores de desaceleração da economia na China são "completamente exagerados". Para ele, o principal tema econômico do mundo ainda é a ascensão de consumidores nos países emergentes, liderados pela classe média chinesa, que está em franca expansão.