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Opep rompe tradição e se resiste a cortar mais a produção

Grant Smith

29/06/2017 15h02

(Bloomberg) -- O coro do mercado de petróleo que pede mais reduções na produção fica mais alto a cada dia. Ao se resistir ao clamor, a Opep está rompendo com sua própria história.

Como o petróleo caiu para menos de US$ 50 por barril -- menos da metade do preço de dois anos atrás -- vários analistas do mercado, do Goldman Sachs Group aos ex-funcionários da Organização de Países Exportadores de Petróleo, disseram que as restrições à oferta impostas neste ano precisam ser intensificadas. Isso seria coerente com a conduta anterior da organização, quando cortes ou aumentos da produção muitas vezes chegavam por etapas com alguns meses de diferença.

Desta vez a situação é diferente. O surgimento dos produtores de petróleo de xisto dos EUA -- que podem ajustar a oferta mais rapidamente do que os rivais anteriores da Opep - significa que a organização não pode agir com a mesma liberdade que tinha antes. À medida que a pressão econômica aumenta sobre os países exportadores, usar o velho manual de táticas acarreta o risco de que a nova oferta dos EUA preencha qualquer redução adicional.

"Quando a Opep controlava tudo, muitas vezes ela agia por etapas", disse Chakib Khelil, ex-ministro de Energia da Argélia e presidente da Opep em 2008. "O mercado é diferente do de 2008. Hoje, os países de fora da Opep têm mais peso na oferta. E o grande problema é quanto tempo eles podem sustentar essa oferta."

Em queda

O petróleo cedeu quase todos os seus ganhos desde que a Opep e a Rússia lançaram uma iniciativa para eliminar um excedente presente há três anos. Os recortes de oferta desses países não esgotaram os estoques inchados de combustível do mundo com suficiente velocidade. Os futuros do West Texas Intermediate caíram cerca de 16 por cento neste ano e eram cotados a US$ 45,13 por barril às 11h46 desta quinta-feira, horário de Londres. Antigamente, isso provavelmente teria levado a Opep a revisar seus planos e a concordar com mais reduções.

Embora no mês passado a organização e seus parceiros -- conhecidos como o Grupo de Viena - tenham concordado em prolongar os cortes até abril, eles ainda não mostraram interesse em ampliá-los. O ministro de Energia da Arábia Saudita, Khalid Al-Falih, reiterou em 19 de junho que os mercados globais já estão a caminho do reequilíbrio e no dia seguinte um comitê de produtores reunidos em Viena, segundo se informou, não considerou seriamente fazer reduções adicionais.

Diferença

A diferença fundamental com as iniciativas anteriores da Opep é que os produtores de xisto dos EUA podem se recuperar suficientemente rápido para desfazer as medidas tomadas pela organização, segundo Bob McNally, presidente da consultoria The Rapidan Group. Essa preocupação dissuadiu a Opep de reduzir a produção na crise atual até o fim do ano passado.

Como os estoques continuam inchados e os preços estão caindo muito, talvez a Opep tenha em breve que escolher entre duas opções principais: aceitar que suas iniciativas fracassaram e reverter os cortes ou apostar a aprofundá-los.

Al-Falih, da Arábia Saudita, prometeu fazer "o que for necessário" para reequilibrar o mercado. O reino -- arquiteto da política atual -- talvez não esteja disposto a aguentar a humilhação de uma reversão, disse Mike Wittner, diretor de pesquisa sobre o mercado de petróleo do Société Générale em Nova York.

Isso poderia fazer com que a Opep "redobre sua decisão e corte muito mais", disse ele. "Mas uma redução adicional acarreta seu próprio perigo, que é uma recuperação da produção dos EUA."