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Antes lobos solitários, mineradoras agora querem dividir riscos

Thomas Biesheuvel

11/08/2017 12h03

(Bloomberg) -- Os apostadores impetuosos abundam no negócio da mineração, onde bilhões são gastos na busca por filões em alguns dos lugares mais inóspitos do planeta. Mas a prolongada queda dos metais e os grandes prejuízos com projetos individuais anteriores estão tornando as principais produtoras avessas aos riscos.

"A indústria da mineração perdeu a coragem", afirmou Mark Bristow, CEO da Randgold Resource, uma produtora de ouro na África com ações negociadas em Londres. "A nova moda são as joint ventures. Isso é muito estranho no caso das grandes mineradoras. Elas deveriam estar tranquilas em relação às suas capacidades."

Neste momento de recuperação dos preços -- que ajuda a viabilizar novamente os novos projetos --, produtoras de metais como Anglo American, BHP Billiton e Rio Tinto buscam parceiras para dividir o risco de investimento em vez de apostarem sozinhas como antes. A abordagem mais cautelosa é uma consequência da experiência de quase-morte do colapso das commodities em 2015 e também poderia limitar a recompensa para os acionistas durante um rali dos metais.

A mudança para um financiamento mais conservador surge em um momento em que o setor enfrenta um dilema central: a maioria das minas mais ricas em lugares mais seguros ou acessíveis já foram encontradas e construídas. Com isso, as empresas estão cada vez mais buscando desenvolver depósitos de minerais de menor qualidade e que podem estar em países de maior risco.

"Elas precisam investir mais para produzir menos", disse Rob Crayford, gerente de fundo da New City Investment Managers, da CQS Asset Management, em Londres. "Muitos dos projetos existentes por aí não são tão bons assim."

Parceiros de expansão

Ainda assim, apesar de continuarem bem abaixo de seus picos pós-recessão, os preços subiram o suficiente nos últimos 12 meses ou mais para que as empresas avaliem a recuperação dos planos de expansão que engavetaram na época de excedente. O índice de seis metais básicos da Bolsa de Metais de Londres, incluindo cobre e alumínio, subiu quase 50 por cento em relação a uma baixa registrada em janeiro de 2016. O ouro caminha para o maior ganho anual desde 2010 e o minério de ferro quase dobrou de valor em relação às mínimas históricas atingidas em 2015.

A S&P Global Market Intelligence estima que a perfuração para exploração de metais aumentou por cinco trimestres consecutivos, caminhando para seu início de ano mais rápido desde 2009, e há sinais de que o ritmo está acelerando.

As joint ventures certamente não são uma ideia nova. A gigantesca mina de cobre de Escondida, no Chile, é operada pela BHP, mas também é de propriedade da Rio Tinto e de empresas japonesas como a Mitsubishi. Mas o impulso para dividir mais riscos é um claro contraste em relação à expansão ocorrida no bull market anterior.
Ainda assim, o método mais corajoso de investir de forma solitária nos projetos pode ser o mais benéfico para os acionistas, segundo Bristow, da Randgold, cuja empresa construiu as suas três minas do zero, incluindo uma joint venture com a AngloGold Ashanti, de Johannesburgo.

"Os projetos incipientes certamente são onde se deve colocar todo o dinheiro", disse Bristow. "Mas muitas dessas empresas ainda estão lidando com o crescimento exagerado durante o superciclo."

(Atualizações com link para história de rali de metais sob a subtítulo 'Expansion Partners'.)