IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Credit Suisse proíbe negociação de títulos da Venezuela

Jan-Henrik Foerster e Katia Porzecanski

11/08/2017 09h26

(Bloomberg) -- O Credit Suisse Group proibiu que seus funcionários comprem ou vendam determinados instrumentos financeiros emitidos pela Venezuela ou façam negócios com o país, diante da intensificação da crise econômica e política.

O banco sediado em Zurique deixa de negociar dois títulos emitidos pelo governo e pela estatal petrolífera ou qualquer título emitido por entidade venezuelana a partir de 1º de junho, de acordo com memorando enviado em 7 de agosto ao qual a Bloomberg teve acesso. O banco também restringiu negócios com contrapartes do país, incluindo pessoas físicas e jurídicas. Um representante do Credit Suisse confirmou o conteúdo do memorando.

Os EUA estudam ampliar as sanções contra o governo do presidente Nicolás Maduro, que instalou uma assembleia constituinte que ameaça retirar o poder do Congresso, controlado pela oposição. O governo do presidente americano Donald Trump chamou Maduro de ditador e impôs sanções contra ele e mais de duas dezenas de autoridades e ex-autoridades locais. Nos últimos meses, mais de 100 pessoas morreram em manifestações contra o regime, que tenta se consolidar no poder.

Os bancos sofrem pressão para saber quem são seus clientes e impedir negócios escusos nas divisões de gestão de fortunas após diversas investigações e penalidades por conduta imprópria. O Deutsche Bank foi multado pelos EUA e pelo Reino Unido neste ano por não ter impedido que suas operações fossem utilizadas por um esquema de lavagem de dinheiro da Rússia. O Credit Suisse é investigado em Moçambique por seu papel na estruturação de empréstimos garantidos pelo governo que desencadearam uma crise econômica.

'Não tem apetite'

Os instrumentos vetados são títulos públicos com vencimento em 2036 e títulos com cupom de 6 por cento emitidos pela Petróleos de Venezuela (PDVSA), que vencem em 2022. Poucos corretores negociam esses papéis atualmente, mas o Credit Suisse é o primeiro a bani-los formalmente, pelo que se sabe até o momento.

O Goldman Sachs Group foi alvo de protestos após ter comprado do banco central venezuelano quase US$ 3 bilhões dos títulos PDVSA 2022 com desconto generoso. A transação deflagrou uma revisão interna pelas áreas jurídica e de compliance. O Goldman Sachs informou que comprou os títulos por meio de uma corretora para clientes gestoras de recursos e que não forneceu dinheiro diretamente para o governo.

"À luz do clima político, dos eventos recentes e das atitudes tomadas pelo atual governo, queremos garantir que o Credit Suisse não proverá meios para qualquer um violar os direitos humanos do povo venezuelano", afirmou o memorando.

O Credit Suisse "não tem apetite para prover fundos à República da Venezuela" diretamente ou via terceiros quando entender que há intenção de repassar os fundos ao governo, de acordo com o documento.

Risco de reputação

O banco também proibiu negócios com contrapartes controladas pelo governo venezuelano e do setor privado, a menos que sejam aprovados pela área de risco de reputação ou identificados como atividades permissíveis.

O Credit Suisse está se distanciando do país após ter atuado como assessor financeiro em uma troca de títulos no valor de US$ 2,8 bilhões, conduzida pela PDVSA em outubro. É improvável que surja outra oportunidade dessas enquanto os custos de captação para a estatal e o governo venezuelano continuarem proibitivos.

A decisão demonstra que o banco "está retirando rapidamente seu apoio e associação com o regime de Maduro", disse Russ Dallen, sócio-gerente da Caracas Capital.

(Atualizações com contexto do quarto parágrafo.)

--Com a colaboração de Noris Soto e Rita Devlin Marier