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Musk e petróleo barato condenaram uso de gás natural em carros

Patrick Martin

15/08/2017 13h26

(Bloomberg) -- A ideia era nada menos que revolucionária: converter os milhões de caminhões, ônibus e outros veículos comerciais dos EUA para que rodassem com gás natural em vez de gasolina e diesel.

Em 2008, a proposta do magnata do setor de energia T. Boone Pickens tinha algum apelo. A produção de petróleo dos EUA estava em queda e o país que é o maior consumidor de combustível do mundo se tornava cada vez mais dependente do petróleo estrangeiro. O petróleo atingiu um recorde de quase US$ 150 o barril, enquanto o gás natural estava comparativamente barato. Pickens ajudou a fundar a Clean Energy Fuels para lucrar com a mudança. A fabricante de bombas de abastecimento de gás natural para postos de combustíveis chegou a ser avaliada em US$ 1,8 bilhão.

Mas de repente ocorreu um tipo diferente de revolução. Novas técnicas de perfuração provocaram uma expansão da oferta de petróleo dos EUA e os carros elétricos decolaram. A Tesla, que uma década atrás ainda não havia entregado seu primeiro carro elétrico, agora possui 455.000 reservas para o Model 3 -- quase 20 vezes o número de veículos movidos a gás natural que rodavam nas ruas dos EUA em 2015. As ações da Clean Energy Fuels acumulam queda de 90 por cento em relação ao pico de 2012 e a empresa admite que o gás natural pode ser apenas um mercado de nicho como combustível de transporte.

"Não tenho certeza de que os EUA estejam preparados" para o uso generalizado de veículos de passageiros movidos a gás natural devido à infraestrutura necessária para levar a oferta aos clientes, disse Andrew Littlefair, CEO da Clean Energy Fuels, por telefone. "Há muitas razões pelas quais faria sentido dar uma nova chance ao gás, mas não sei se estou pronto para dizer que isso vai acontecer."

Pickens, que fez fortuna com prospecção de petróleo há cinco décadas, tinha grandes esperanças para o gás natural porque acreditava que a oferta de petróleo atingiria o pico. Em artigos de opinião, entrevistas à imprensa e encontros com políticos, inclusive com o então presidente Barack Obama, Pickens disse que os caminhões pesados e os veículos de frota do país deveriam rodar com gás natural. Os EUA poderiam reduzir sua dependência em relação às importações de petróleo e usar mais energia eólica e solar, disse ele.

Pickens, 89, não pôde comentar, segundo Jay Rosser, porta-voz da BP Capital, hedge fund de energia fundado por Pickens.

O número de veículos plug-in nos EUA quase triplicou entre 2008 e 2015, mostram dados do governo. A Tesla, empresa fundada pelo bilionário Elon Musk, lançou três modelos desde 2012 e outras fabricantes estão entrando no mercado. A Volvo afirmou que todos os seus carros novos a partir de 2019 serão híbridos ou totalmente elétricos e a BMW está desenvolvendo um carro elétrico autônomo para substituir o Série 7 como principal modelo da empresa em 2021.

"A infraestrutura seria onerosa" para a adoção generalizada de veículos movidos a gás natural, disse Lee Klaskow, analista sênior de transporte e logística da Bloomberg Intelligence. "Seria preciso haver uma enorme economia de custos."