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Queda da energia nuclear ameaça segurança dos EUA, diz cientista

Ari Natter

15/08/2017 13h23

(Bloomberg) -- O declínio da indústria de energia nuclear dos EUA coloca a segurança do país em risco, segundo relatório que está sendo divulgado nesta terça-feira pelo ex-secretário de energia Ernest Moniz. Ele pede um investimento federal maior.

O relatório da Energy Futures Initiative, obtido pela Bloomberg News, afirma que o setor de energia atômica comercial é necessário para manter a tecnologia de processamento de urânio longe de terroristas e de outros atores ruins, além de apoiar embarcações nucleares da Marinha.

O relatório de Moniz, um cientista nuclear que trabalhou como secretário de energia no governo do presidente Barack Obama, defende garantias de empréstimos governamentais ampliadas, incentivos fiscais e pesquisas sobre tecnologia nuclear. O relatório não menciona o presidente Donald Trump, que está propondo reduzir o financiamento para pesquisa nuclear e cancelar o programa de garantia de empréstimos.

A energia nuclear representa cerca de 20 por cento da geração de eletricidade dos EUA, mas o setor tem enfrentado dificuldades. Cinco usinas nucleares, com uma capacidade combinada de 5 gigawatts, fecharam antecipadamente desde 2013 e outras seis plantas deverão fechar antecipadamente nos próximos nove anos. Das duas novas usinas nucleares em construção nos EUA, uma teve as obras interrompidas pela empresa Scana no mês passado e os financiadores da outra, a planta Vogtle, da Southern, na Geórgia, estão buscando ajuda adicional do governo federal.

A Westinghouse Electric, pioneira em tecnologia nuclear que faz parte da Toshiba, foi à falência em março após atrasos nos reatores AP1000 em cada uma dessas usinas. Depois de declarar falência, a Westinghouse -- cuja tecnologia é usada em mais da metade das usinas nucleares do mundo -- afirmou que mudou o foco: deixou de construir reatores e passou a ajudar a desmontá-los.

Trump prometeu ajudar o setor e o secretário de Energia, Rick Perry, está realizando um estudo sobre a rede elétrica destinado a ajudar as chamadas usinas de energia de carga de base, que inclui o carvão e a energia nuclear. Mas o orçamento de Trump também propôs cortes profundos no Departamento de Energia, incluindo o fechamento do programa de garantia de empréstimos, que Moniz afirma que deveria ser expandido, e a redução dos gastos com pesquisa.

Moniz, que trabalhou como secretário de Energia de 2013 a janeiro de 2017, também atua como CEO da Nuclear Threat Initiative, uma organização sem fins lucrativos que trabalha pelo desarmamento nuclear, pela segurança dos materiais nucleares e pela não-proliferação.

Os EUA precisam de empresas e de engenheiros capazes de construir e operar empresas nucleares, disse Moniz, que é físico nuclear, no relatório. Os reatores da Marinha dos EUA exigem suprimentos e engenheiros qualificados e os cientistas nucleares norte-americanos ocupam funções vitais para a segurança nacional, afirmou.

Empresas como a BWX Technologies, de Lynchburg, Virgínia, nos EUA, dfabricam componentes nucleares tanto para a indústria nuclear comercial quanto para reatores navais. Se o setor comercial entrar em colapso, isso poderá significar a eliminação de uma empresa capaz de processar urânio altamente enriquecido, segundo o relatório.

"A redução do número de empresas comerciais terá um efeito de transbordamento a longo prazo na cadeia de abastecimento da Marinha, gerando inclusive um entusiasmo menor entre os cidadãos norte-americanos para a busca de carreiras de tecnologia nuclear", diz o relatório.