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Vender remédios biossimilares é mais difícil que fabricá-los

Jared S. Hopkins

15/08/2017 13h29

(Bloomberg) -- Os grandes laboratórios farmacêuticos querem lucrar com a venda de cópias mais baratas dos remédios biotecnológicos caros da concorrência. Pacientes e médicos querem que os remédios custem menos.

No entanto, unir esses dois grupos é mais difícil do que parece. Parte do problema é uma rede de relações entre laboratórios e seguradoras que protege os remédios mais antigos e costuma deixar de lado os novatos até o mercado ficar lotado.

Neste mês, a Pfizer informou que Inflectra, sua versão do Remicade, famoso remédio contra a artrite reumatoide da Johnson & Johnson, gerou US$ 94 milhões no segundo trimestre. Remicade, um remédio biológico feito com células vivas, registrou US$ 1,53 bilhão em vendas nesse período e US$ 7 bilhões em 2016.

Ascension Health, um sistema hospitalar sem fins lucrativos com quase 23.000 leitos que tem sede em St. Louis, gasta US$ 55 milhões por ano com o Remicade, mais do que com qualquer outro medicamento. Usar o Inflectra, parte de uma nova classe de medicamentos chamados "biossimilares", possibilitaria economizar pelo menos US$ 10 milhões por ano, segundo o farmacêutico-chefe do Ascension, Roy Guharoy. Ele se reuniu com a Pfizer e planejava incluir o Inflectra com mais frequência nos tratamentos, mas descobriu que as seguradoras preferiam continuar com o Remicade.

"Por essa nós não esperávamos", disse Guharoy. "Se as seguradoras nos obrigam a usar o produto de marca, ficamos de mãos atadas."

A Pfizer afirma que há uma tendência contrária a seu medicamento no campo de jogo.

"O acesso ao Inflectra está consideravelmente limitado por causa do afã da J&J para assinar contratos exclusivos com seguradoras e fornecedores. Nosso produto mais barato não tem o mesmo acesso que o Remicade e continua em uma posição de desvantagem apesar dos aumentos de preço recentes do Remicade", afirmou a empresa em um comunicado.

Caroline Pavis, porta-voz da J&J, disse em um comunicado que o Remicade é vendido em um mercado extremamente competitivo e que cabe aos planos de saúde definir sua cobertura.

Caminho difícil

O caminho dos biossimilares para chegar ao mercado tem sido difícil. Médicos e pacientes tendem a ser fiéis a remédios inovadores que deram bons resultados; os pagantes são cautelosos para adotar novas alternativas; e os biossimilares não podem ser trocados na farmácia porque não são idênticos aos remédios que pretendem substituir.

A J&J informou a analistas em uma teleconferência recente que protegeu o território do Remicade assinando contratos com pagantes para o ano. A J&J tem contratos exclusivos em quase metade de seu mercado, segundo o analista Ronny Gal, da Sanford Bernstein & Co., o que significa que pagantes concordam com cobrir unicamente Remicade para tratamentos de artrite reumatoide. Além disso, a J&J fez pacotes com remédios e dispositivos para hospitais e ofereceu descontos aos centros de infusão, escreveu Gal.

Recentemente, a UnitedHealth Group, maior seguradora dos EUA, informou aos fornecedores que o Remicade continua sendo o remédio preferido para cobertura. O Remicade continua na lista de remédios preferidos para o ano que vem das administradoras de benefícios farmacêuticos Express Scripts Holding e CVS Caremark, gerenciada pela CVS Health.