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Rei da pornografia se reinventa como guru de startups no Japão

Pavel Alpeyev

25/08/2017 10h06

(Bloomberg) -- Imagine se o editor do Pornhub.com fosse convidado para dar uma palestra para os estudantes da Universidade de Harvard sobre as virtudes de administrar uma empresa com responsabilidade social. Foi basicamente o que aconteceu no Japão em dezembro, quando a universidade particular mais prestigiosa do país fez um convite ao magnata do entretenimento adulto Keishi Kameyama.

Depois de anos de empréstimos bancários recusados e transações empresariais congeladas, o antigo pária passou a ser recebido como um pioneiro da internet e até mesmo um modelo a seguir. Seu império de mídia e tecnologia em constante evolução, DMM.com, começou com a pornografia, mas se transformou em uma enorme coleção de empresas que fizeram dele uma das pessoas mais ricas do Japão.

Kameyama recebeu um importante voto de confiança há alguns anos, quando o cineasta Takeshi Kitano concordou em aparecer em propagandas de sua incubadora de startups, e os apoios chegam rapidamente desde então. Em dezembro, ele foi convidado pelos estudantes da Universidade de Keio para falar sobre seu trabalho de investimento na África e apoio a jovens empreendedores. Um mês depois, a revista semanal mais popular do Japão o contratou para escrever uma coluna para o site Bunshun Online com conselhos sobre relacionamentos e criação de filhos. Em abril, estudantes de graduação consultados pelo jornal Nikkei o escolheram como um dos 100 melhores empregadores do Japão, à frente da IBM e do Google.

"Estamos sempre tentando coisas novas, então as pessoas pensam: 'se você trabalhar lá, coisas interessantes vão acontecer'. Elas devem imaginar: 'o que ele vai fazer agora, lançar um foguete?'", disse Kameyama rindo, durante uma longa entrevista em que ele falou sobre sua família, suas finanças e a complexa ética do negócio que o tornou rico.

Pode parecer estranho que o operador de um shopping virtual de vídeos de sexo tenha conquistado uma aceitação pública tão incondicional, mas o Japão sempre teve uma espécie de tolerância que faz vistas grossas à pornografia. Mais significativo é o fato de que Kameyama tenha criado um portfólio eclético de empresas, que agora inclui uma plataforma de negociação cambial, videogames, uma escola de inglês on-line e energia solar. No ano passado, a pornografia contribuiu com menos de um terço das vendas do grupo, que totalizaram US$ 1,7 bilhão.

"As pessoas estão começando a perceber o quanto esse cara é inteligente", disse Akira Ishihara, presidente da consultoria Kiseki Keiei Risya, com sede em Tóquio, que convocou Kameyama para um seminário sobre startups no ano passado. "Ele tem uma visão extremamente orientada ao futuro, e o modo como ele coloca o dinheiro para trabalhar é muito, muito inteligente."

Com 56 anos, casado e pai de dois filhos, Kameyama tem um cavanhaque de poucos dias e um discreto uniforme de camisetas monocromáticas. Sua posse da DMM lhe dá um patrimônio líquido de US$ 3,5 bilhões, de acordo com os registros financeiros, divulgados pela primeira vez à Bloomberg News, e com os cálculos do Bloomberg Billionaires Index com base nos resultados atuais. No entanto, a aparência e o comportamento de Kameyama dificilmente indicariam riqueza. O nono homem mais rico do Japão vai de bicicleta para o trabalho.