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Em menos de 3 anos, ação de firma canadense sobe 500% desde IPO

Gerrit De Vynck

28/08/2017 14h13

(Bloomberg) -- Nos EUA, é comum os estudantes trabalharem como garçons ou cortando grama para pagar a faculdade. Jack McCarthy passeava por brechós à procura dos suéteres com os motivos natalinos mais feios possíveis. Aos 22 anos, ele comprava tudo o que encontrava ? geralmente por poucos dólares ? e vendia pela internet por mais de US$ 20 cada peça. McCarthy chegou a faturar US$100.000 e foi assim que se diplomou pela Babson College sem dívida.

Para essa façanha, ele contou com a Shopify, empresa canadense que abriu o capital há menos de três anos. A companhia fornece websites, processamento de pagamentos e remessas para mais de 500.000 vendedores que atuam online. Agora, seu valor de mercado chega a US$10 bilhões ? praticamente igual ao de Twitter e Square.

A tese da Shopify é relativamente simples: há gente no mundo todo com capacidade e energia para montar bons negócios online, mas que não tem as ferramentas necessárias. A Shopify permite que essas pessoas testem lojas online pagando uma mensalidade inicial de US$ 29, sendo que as duas primeiras semanas são gratuitas. Muitas não vão em frente, mas quem encontra um mercado, cresce. E quanto mais cresce, mais a Shopify ganha dinheiro por meio de taxas de transação e assinaturas mais caras.

"A barreira de entrada mínima é uma das razões para o enorme crescimento da Shopify", disse McCarthy em entrevista por telefone da Holanda, onde ele passa férias e presta serviços esporádicos de consultoria em e-commerce.

Entre as empresas de tecnologia com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão, a Shopify é a ação listada nos EUA de melhor desempenho neste ano. O papel deu retorno de mais de 500 por cento nesses 27 meses desde a abertura de capital (initial public offering ou IPO). Comparativamente, Facebook e Netflix proporcionaram retorno de aproximadamente 100 por cento em igual período após suas respectivas aberturas de capital.

A Shopify ainda não dá lucro, mas vem superando consistentemente as estimativas de faturamento dos analistas e também eleva suas próprias projeções com regularidade. Aparentemente, a companhia lida bem com a concorrência, mas tamanho sucesso pode torná-la alvo de aquisição por Google ou Amazon.com ou até fazer com que essas gigantes tentem tirar negócios da Shopify.

Quem fundou a companhia em 2004 foi o programador de software Tobi Lutke, um alemão que se mudou para Ottawa depois que arrumou uma namorada canadense. Lutke havia tentado montar uma loja online de pranchas de snowboard e percebeu que não existiam ferramentas fáceis de usar. Ele captou dinheiro junto à Bessemer Venture Partners e à Felicis Ventures, comprou um estúdio de design para melhorar os websites disponíveis aos usuários e começou a criar recursos como aplicativos para uso no ponto de venda e um sistema de pagamentos.

Desde que levantou US$ 150,5 milhões na IPO, o número de clientes da Shopify passou de 165.000 para meio milhão, deixando para trás concorrentes como a Bigcommerce, sediada em Austin, no Texas.

Ao longo dos anos, formou-se um enorme ecossistema em torno da Shopify, como ocorreu com a Amazon. Há grupos e fóruns de discussão no Facebook e no Reddit dedicados a otimização de buscas e taxas de conversão. Programadores do mundo inteiro construíram centenas de aplicativos que os usuários podem acrescentar às suas lojas ? de conversores internacionais de números de calçado a ferramentas de gestão da cadeia de suprimentos.

Obviamente também surgiram os consultores que ajudam os neófitos a vender online. Em 2013, Ross Beyeler, dono da agência de web design Growth Spark, de Boston, decidiu focar quase exclusivamente em lojistas listados na Shopify. Desde então, seu quadro de funcionários aumentou de quatro para 12 pessoas e ele conquistou grandes clientes, como a fabricante de equipamentos de som Bose. Na visão de Beyeler, o universo atual de 500.000 clientes potenciais vai continuar se expandindo. "A demanda relativa à Shopify é enorme", ele disse.

Para entrar em contato com o repórter: Gerrit De Vynck em Toronto, gdevynck@bloomberg.net.

Para entrar em contato com a editoria responsável: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net.

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