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Jovens executivos do setor bancário chileno criam boom de surfe

Javiera Quiroga

31/08/2017 14h41

(Bloomberg) -- Christian Acevedo surfa no Chile há 26 anos. Conhecido na comunidade como El Macha, ou "o mexilhão", devido à quantidade de tempo que ele passa no mar e nas pedras, Acevedo é um dos primeiros instrutores certificados do Chile. Ele deu aulas em cursos de surfe em Puertecillo, uma praia a cerca de 177 quilômetros a sudoeste de Santiago, e também em Pichilemu, um local mais popular 40 quilômetros mais ao sul pelo litoral. Enquanto trabalhava na loja de surfe Surfers Paradise, em Santiago, ele se tornou um mentor para toda uma geração de jovens surfistas.

Em 2007, Acevedo percebeu que havia um grupo demográfico cada vez maior na cidade em busca do melhor equipamento de surfe possível. Em 2008, ele abriu El Ruco, uma loja de surfe que atende a um público mais elitizado. Foi uma decisão empresarial previdente.

"Eles vêm de terno depois do trabalho", diz Acevedo. "Muitos deles são executivos de bancos, corretores de bolsa, pessoas relacionadas com o setor financeiro. Abrimos com base nas necessidades desse segmento."

Esta nova geração de executivos do setor bancário do Chile não quer saber de passatempos amenos e tranquilos como o golfe. Eles querem algo com mais adrenalina: mountain bike, motocross e, cada vez mais, surfe.

Isso é sintomático de uma mudança cultural: os executivos do setor bancário não estão tão interessados em trabalhar 15 horas por dia e depois passar o fim de semana discutindo transações no campo de golfe. Agora eles querem se afastar do trabalho durante o tempo livre, se desconectar. Não dá para levar o celular na prancha de surfe, brincam eles.

Andrés Rochette, 31 anos, vice-presidente da Deutsche Bank Securities, começou a surfar há 16 anos e rodou o mundo praticando o esporte. O pai dele, que também é um executivo do setor bancário, joga golfe, mas Rochette prefere ir para o litoral no fim de semana.

"Tem uma geração de banqueiros de 25 a 35 anos que faz parte deste boom que está se espalhando entre os jovens em geral", diz Rochette. "O preconceito em torno do surfe está desaparecendo. Você não é mais visto como um hippie no escritório por surfar e isso é importante em um setor onde a imagem sempre foi relevante."

A nova geração de executivos do setor bancário tem diferentes prioridades de vida, em contraste com as gerações mais velhas, disse Rochette. Ela valoriza o tempo pessoal mais do que a estabilidade e a segurança no trabalho. Para ele, o surfe permite se desconectar do estresse do mercado financeiro e do excesso de conectividade durante a semana.

No entanto, os novos executivos não se desconectam completamente na praia. Embora seja difícil fazer um telefonema em uma prancha de surfe, isso não se aplica ao fim do dia. Não é incomum fazer contatos profissionais com uma cerveja na mão ao redor de uma fogueira ou fazer ligações telefônicas relacionadas ao trabalho.

Na verdade, muitos estabelecem contatos e vínculos durante os fins de semana na praia, disse Ignacio Pedrosa, chefe de distribuição de terceiros no BTG Pactual Chile. "O surfe é muito comum entre os jovens executivos do setor bancário chileno", disse ele. "O golfe tem um componente mais social, mas está fora de moda. O mar ensina você a ser humilde e a controlar seu ego."

Para entrar em contato com o repórter: Javiera Quiroga em Santiago, jquiroga5@bloomberg.net.

Para entrar em contato com a editoria responsável: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net.

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