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Vale do Silício faz rara aposta no silício com startup Barefoot

Ian King

13/09/2017 14h25

(Bloomberg) -- Há quase duas décadas os capitalistas de risco do Vale do Silício vêm perdendo o interesse pela tecnologia que deu o nome à região. Uma startup está convencendo todos a darem uma nova chance ao silício.

A estrela mais brilhante desse segmento há muito esquecido do mercado de tecnologia é a Barefoot Networks. A empresa está construindo um novo tipo de chip personalizável para o equipamento onipresente que as empresas usam para transferir dados entre computadores. Em menos de quatro anos, a Barefoot levantou cerca de US$ 155 milhões em financiamentos com os maiores nomes do Vale, de Wall Street e da China.

O valor é elevado para uma empresa jovem, mas é suficiente apenas para o pontapé inicial no mundo dos semicondutores de ponta. E os custos estão "crescendo exponencialmente", disse Hock Tan, CEO da fabricante de chips Broadcom, em teleconferência com investidores, no mês passado. A Broadcom, que domina o mercado no qual a Barefoot está tentando entrar, investiu US$ 2,7 bilhões em pesquisa e desenvolvimento no ano passado. O montante representa uma pequena fração dos US$ 12,7 bilhões que a Intel gastou com produtos futuros.

A Barefoot aposta em um executivo experiente do Google e da Qualcomm para ajudar a startup a ingressar em um setor de US$ 50 bilhões. Craig Barratt, nomeado CEO da Barefoot em fevereiro, reconheceu que as chances estão contra ele no que diz respeito à capacidade de investimento. "A quantia é enorme, isto é algo assustador para uma startup", disse ele. "Este é o esporte dos reis."

Após o estouro da bolha pontocom, o Vale do Silício deixou de financiar startups que produzem semicondutores. Em 2000, as empresas de capital de risco dos EUA investiram US$ 1 bilhão em fabricantes de chips privadas. Os aportes em startups de semicondutores neste ano caminham para uma mínima recorde, com US$ 154 milhões investidos até o momento, segundo a firma de pesquisa PitchBook Data. A queda é explicada pela disparada dos custos de design e fabricação dos chips, o que permitiu que algumas grandes empresas dominassem.

A Barefoot sozinha representou quase um quarto do financiamento a startups de chips do ano passado. A empresa com sede em Santa Clara, na Califórnia, acumula uma lista impressionante de apoiadores: as firmas de capital de risco Andreessen Horowitz e Sequoia Capital, o Goldman Sachs Group, de Wall Street, as gigantes de tecnologia norte-americanas Alphabet e Hewlett Packard e as chinesas Alibaba Group e Tencent Holdings.

O plano da Barefoot é ambicioso técnica e financeiramente. O chip da empresa contém 11 bilhões de transistores e é feito com o mesmo tipo de técnica sofisticada de produção usada pela Intel, a maior fabricante de chips do mundo. A Barefoot promete solucionar limitações associadas aos comutadores, que são as máquinas que direcionam o fluxo de informação entre computadores.

O segmento do mercado de semicondutores perseguido pela Barefoot pode render grandes recompensas. O chip Tomahawk, da Broadcom, padrão do setor, é vendido por até US$ 3.400 cada.

Mesmo a esses preços, Barratt sabe que, com a economia do setor de chips, é difícil manter-se independente. Pouco antes de ele vender a Atheros à Qualcomm, em 2011, os analistas previam que a empresa geraria um lucro de mais de US$ 100 milhões sobre US$ 1 bilhão em vendas naquele ano.

A aquisição, avaliada em US$ 2,9 bilhões, ajudou a iniciar um esforço de consolidação de vários anos que concentrou quase 60 por cento da participação de mercado nas mãos de 10 empresas. Segundo Barratt, o custo para projetar um simples chip na atualidade é equivalente ao de construir e equipar toda uma fábrica há 20 anos.