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Análise: O próximo passo da bela normalização do Fed

Mohamed A. El-Erian

20/09/2017 10h34

(Bloomberg) -- O Federal Reserve deve detalhar nesta quarta-feira a implementação do próximo passo da normalização plurianual de políticas não convencionais, até o momento ordenadamente gradual, um processo que tem confundido muitos que viam o "taper tantrum" de maio de 2013 como precursor de uma inquietante volatilidade futura. A seguir detalhamos como pensar os quês e os porquês e suas possíveis implicações futuras.

Após os dois dias de reunião do Comitê Federal do Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), o Fed provavelmente oferecerá detalhes operacionais sobre a redução medida e condicional de seu balanço de US$ 4,5 trilhões -- ou seja, o cronograma para redução de seus ativos de títulos do Tesouro e hipotecários. É improvável que as autoridades sinalizem grandes revisões em suas projeções para as taxas de juros. Especificamente, eles se absterão de validar de forma significativa uma probabilidade atualmente muito baixa no mercado de aplicar nova alta no restante do ano. O mais provável é que essa orientação política venha mais tarde.

Investidores e traders estão otimistas em relação ao início da redução do balanço após passar de forma ordenada pelo encerramento do programa de compras de títulos em grande escala do Fed e por três aumentos nos juros. Para ilustrar a questão, o VIX -- um indicador amplamente acompanhado de volatilidade do mercado, normalmente chamado de "índice de medo" -- era negociado em baixa de 10,15 na véspera da reunião do Fomc dessa semana depois de flutuar em uma faixa entre 8,84 e 23,01 nos últimos 12 meses.

Diversos fatores contribuem para esta notável calmaria no mercado. A economia global está no meio de uma recuperação sincronizada do crescimento, apesar de esta recuperação estar longe de ser impressionante e abaixo de sua capacidade (e necessidade). A julgar pelas observações dos membros do Fed, o banco central dos EUA continua interessado em evitar perturbações no mercado. Ao mesmo tempo, o Banco Central Europeu e o Banco do Japão continuam com suas grandes aquisições de títulos do mercado.

Tudo isso serve para alimentar o processo de expectativa adaptativa que criou uma elevada confiança no mercado de que os bancos centrais são capazes e estão dispostos a oferecer uma "bela normalização" -- fazendo aqui uma adaptação da frase cunhada em outro contexto de desalavancagem por Ray Dalio, fundador do hedge fund Bridgewater -- a começar pelo Fed, a instituição monetária mais poderosa e influente do mundo. Ou seja, eles gerenciarão uma saída lenta e ordenada das medidas não convencionais que não tirará o crescimento econômico dos trilhos, nem provocará instabilidade financeira.

Essa manobra política delicada e sem precedentes está longe de ser automática.

Resta saber se, diferentemente da última recuperação do crescimento global, em 2010, os motores subjacentes desta vez desenvolverão um impulso de crescimento forte e duradouro a médio prazo -- uma questão que assume maior urgência para os políticos que continuam atrasando o combate aos obstáculos estruturais e cíclicos às atividades econômicas produtivas. Resta saber também se o Fed cumprirá um compromisso de política tão firme em meio a uma significativa mudança futura na composição do Conselho de Governadores.

Esses fatores de risco são agravados pelo que considero a maior incerteza de todas: como a economia global e os mercados respondem quando mais de um banco central de importância sistêmica busca normalizar políticas monetárias.

Por enquanto, os mercados continuarão tratando a normalização do Fed como o equivalente a observar a tinta secar: um processo lento, sem intercorrências e relativamente previsível. Não está nada claro, no entanto, se essas expectativas serão validadas a longo prazo.

O desafio vai além do fato de o Fed continuar implementando uma "bela normalização". Exige também uma recuperação sustentada do crescimento econômico que permita que o BCE e o Banco do Japão sigam o exemplo. E para isso as economias avançadas precisam dar um passo significativo em direção à formulação de uma política pró-crescimento que reduza a dependência em relação aos bancos centrais, que tem se mostrado prolongada e excessiva.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.

Para entrar em contato com o repórter: Mohamed A. El-Erian em Nova York, melerian@bloomberg.net.

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