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Por que é hora de prestar atenção na crise da Catalunha

Charles Penty

29/09/2017 13h34

(Bloomberg) -- A campanha da Catalunha pela independência chegará a um ponto culminante no domingo, quando a administração rebelde de Barcelona tentará realizar um referendo sobre a independência, desafiando o Tribunal Constitucional da Espanha e o governo do primeiro-ministro Mariano Rajoy, em Madri.

Os investidores por enquanto têm ignorado aquela que se transformou na mais grave crise constitucional da Espanha desde que o país voltou à democracia após a morte do ditador Francisco Franco, há quatro décadas. O IBEX 35, índice de referência da Espanha, superou seus pares neste ano e o rendimento extra exigido pelos investidores para manter títulos espanhóis em vez de dívida alemã pouco mudou em relação a setembro do ano passado.

Pode ser hora de os investidores começarem a prestar mais atenção, disse Ángel Talavera, economista da Oxford Economics em Londres. A Espanha não reconhecerá os resultados do referendo, mas a busca pela soberania pode acabar prejudicando a economia, desencorajando os investimentos e levantando dúvidas quanto à capacidade de Rajoy para governar.

"O dinheiro não gosta de incerteza", disse Talavera, por telefone. "Em algum momento os investidores acordarão e perceberão que pode haver um impacto a longo prazo."

A tensão continua aumentando em Barcelona antes da votação.

Na quinta-feira, Joaquim Forn, chefe de assuntos internos do governo catalão, contestou a ordem de um juiz à polícia para garantir que os edifícios públicos permaneçam fechados no domingo para que não possam ser utilizados como locais de votação, afirmando que a segurança pública é mais importante.

Enquanto isso, o jornal La Vanguardia noticiou que o governo regional está se preparando para uma greve de uma semana a partir de 3 de outubro e o El Mundo publicou que a empresa de varejo El Corte Inglés manteria suas lojas de departamento em Barcelona fechadas no domingo.

A seguir, alguns motivos para os investidores ficarem atentos à Catalunha:

A Catalunha é grande e a dívida espanhola também

Os 7,5 milhões de catalães representam 16 por cento da população espanhola e respondem por 20 por cento da produção, formando assim a maior economia regional do país. A receita gerada pela região ajuda Madri a efetuar pagamentos sobre seu 1,1 trilhão de euros em dívidas. Os separatistas catalães cogitam a possibilidade de reter as receitas fiscais do Tesouro espanhol na fonte.

A crise catalã gera danos colaterais

Rajoy conta com aliados regionais, incluindo deputados do Partido Nacionalista Basco (PNB), para ajudar seu governo de minoria a aprovar leis -- e eles não estão gostando do que estão vendo na Catalunha. O ministro do Orçamento de Rajoy foi forçado a cancelar os planos de apresentar seu projeto de gastos para 2018 nesta semana porque não pôde garantir sua aprovação.

As tensões na Catalunha podem prejudicar a economia espanhola

O Banco da Espanha reafirmou sua estimativa de crescimento econômico de 3,1 por cento neste ano e o país vai prolongando uma expansão que já dura 16 trimestres. Mesmo assim, o economista-chefe do banco alertou que as tensões na Catalunha poderiam minar a confiança. E grupos anarquistas dentro do movimento separatista estudam fazer piquetes em plantas industriais importantes se sentirem que o voto foi bloqueado.

Catalexit e também Brexit?

No momento em que a Europa vai chegando a um acordo em relação ao divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia, a tentativa da Catalunha de se separar da Espanha levanta a perspectiva de que surjam mais fissuras no continente. O governo de Rajoy deixou claro que uma hipotética república catalã teria que ficar fora da zona do euro e da UE. A questão catalã pode, como mínimo, se tornar uma distração em um momento em que os líderes tentam esboçar uma visão para a remodelação do bloco formado por 28 países.

A seguir, alguns dos últimos fatos ocorridos às vésperas do referendo:

Rebelião comprometida

A Catalunha está levando a votação adiante mesmo depois de o governo de Rajoy apreender 10 milhões de cédulas, destacar milhares de policiais, prender mais de uma dezena de autoridades locais e assumir as finanças da região.

Gato e rato

Os organizadores do referendo afirmam que guardaram as urnas em locais secretos ao longo da região costeira e a polícia realiza operações em edifícios do governo e empresas locais para apreender qualquer coisa relacionada à votação.

Locais de votação

Um tribunal catalão ordenou que a polícia -- incluindo a própria força policial da região -- mantenha todos os edifícios públicos fechados no domingo para que não possam ser usados como locais de votação. A Assembleia Nacional Catalã, um grupo pró-independência com 40.000 membros, trabalha há anos em formas de alertar e mobilizar eleitores rapidamente sobre os milhares de locais de votação improvisados que planejam implantar.

Mensagens contraditórias

O presidente catalão, Carles Puigdemont, disse nesta semana que não se cogita uma declaração unilateral de independência e que sua prioridade é assegurar a realização da votação. Mas seu chefe de assuntos internacionais, Raül Romeva, disse a jornalistas em Bruxelas, na quinta-feira, que a Catalunha declararia independência dentro das 48 horas após a contagem final, informou o La Vanguardia.