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Arte contemporânea africana ganha lar em museu da Cidade do Cabo

Pauline Bax

09/10/2017 12h15

(Bloomberg) -- A arte contemporânea africana está se destacando tanto que agora conta com seu primeiro grande museu -- na África.

Com vista para o porto na Cidade do Cabo, o Museu Zeitz de Arte Contemporânea na África, conhecido como Zeitz Mocaa, foi aberto no mês passado em um antigo complexo de silos de milho que foi reformado por 500 milhões de rands (US$ 37 milhões). Exibe estritamente trabalhos do século 21 de uma série de artistas jovens e consolidados de todo o continente, como os sul-africanos Simphiwe Ndzube e William Kentridge e a queniana Wangechi Mutu, bem como peças afro-americanas e afro-caribenhas.

A característica mais impressionante da estrutura concebida pelo designer britânico Thomas Heatherwick é uma escultura oval oca feita nos cilindros internos do complexo de silos e banhada por luz solar. A peça central é um trabalho do artista sul-africano internacionalmente aclamado Nicholas Hlobo que lembra um dragão de borracha gigante, que o ex-presidente do conselho da Puma Jochen Zeitz adquiriu após exibição na Bienal de Veneza, em 2011.

A inauguração do museu, localizado em uma área industrial reconstruída perto do shopping mais movimentado da Cidade do Cabo, o principal destino turístico da África, coincide com a chegada de artistas afro-americanos e africanos ao centro do palco em feiras de arte do mundo inteiro, da Armory Show 2017 em Nova York à exposição Art/Afrique na Fondation Louis Vuitton, em Paris, neste ano.

Mercado de turismo

"O museu trouxe uma enorme quantidade de clientes internacionais à Cidade do Cabo que do contrário não teriam vindo", disse Igsaan Martin, diretor da Galeria Momo, na cidade. "Muitos dos nossos clientes colecionavam nossa arte, mas nunca tiveram motivos para vir à África do Sul. Esperamos que isso beneficie os nossos artistas e que possamos colocá-los em outros museus."

Embora não seja o único instituto de arte contemporânea da África -- a Fondation Zinsou, na pequena nação ocidental africana de Benim, foi pioneira do modelo --, certamente é o maior. Gerou grande entusiasmo entre artistas e curadores na África do Sul, país com o maior número de colecionadores de arte privados do continente.

No entanto, juntamente com os elogios vieram as críticas -- de que os trabalhos em exibição são em sua maioria considerados valiosos para os olhos ocidentais, que a arte dos países africanos francófonos recebe pouca atenção e que o museu parece mais focado no mercado do turismo do que em estimular artistas de todo o continente.

"A arte e o valor africanos são sempre determinados pelo que acontece nos mercados de arte ocidentais e essa dinâmica de poder parece continuar existindo", disse a crítica de arte Mary Corrigall. "É claro que os donos de galeria que venderam trabalhos para o Zeitz estão felizes, e galerias e artistas basicamente estão jogando seus trabalhos lá. Mas muitas pessoas perguntam: 'Este museu é para africanos? Ou é para turistas?'."