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Regras de capital estão quase prontas 10 anos após a crise

Boris Groendahl e Lorenzo Totaro

10/10/2017 12h20

(Bloomberg) -- Passada uma década desde a crise financeira, os órgãos reguladores globais estão perto de finalizar as regras de capital para bancos que visam impedir uma próxima crise.

Negociadores no Comitê da Basileia de Supervisão Bancária apresentaram na semana passada um plano para romper um impasse de um ano que atrasou a conclusão dos padrões de capital conhecidos como Basileia III, segundo pessoas a par das conversas. É preciso que o acordo final seja aprovado por presidentes de bancos centrais e supervisores do Comitê da Basileia.

O último grande obstáculo é uma medida que restringe o quanto os bancos podem reduzir suas exigências de capital, ao medir o risco dos ativos usando seus próprios modelos estatísticos. A Europa defende um piso de 70 por cento do resultado obtido a partir de uma fórmula definida pelas autoridades reguladoras. Os EUA querem 75 por cento. Os negociadores chegaram a um meio termo, em 72,5 por cento, segundo uma das fontes.

Não se sabe se será suficiente para satisfazer a França, maior opositora do piso. De acordo com as pessoas, que pediram anonimato porque as deliberações têm caráter privado, o próximo passo pode ser dado já nesta semana, quando integrantes de bancos centrais ? incluindo François Villeroy de Galhau, comandante do Banco da França ? se reunirão em Washington para uma série de encontros internacionais.

Andreas Dombret, integrante do conselho do Bundesbank, o BC alemão, afirmou em 9 de outubro que as negociações estão "chegando cada vez mais perto" de um acordo.

A pressão por uma resolução aumentou nas últimas semanas. Sabine Lautenschlaeger, integrante do Conselho Executivo do Banco Central Europeu, alertou que "todos os bancos sofrerão se não houver acordo" até o fim do ano. No entanto, Villeroy de Galhau enfatizou que qualquer solução precisaria ser aceita por todos os países representados no comitê.

O Comitê da Basileia reúne autoridades reguladoras do mundo todo, incluindo o BCE, os bancos centrais dos EUA, França e Alemanha e a Agência de Serviços Financeiros do Japão.

Europa e Japão, onde os bancos são ávidos usuários de modelos internos, argumentam que, se o piso for elevado demais, os bancos serão punidos com muitos ativos de baixo risco. A França, sede de quatro grandes bancos globais (sendo o maior o BNP Paribas), se posicionou contra o piso. Segundo Villeroy de Galhau, a taxa de 75 por cento é inaceitável "porque significaria que esse piso e, portanto, a abordagem padronizada, seria a restrição para metade dos bancos internacionais".

Já o americano Federal Reserve tem sido o maior defensor de um piso rígido, alegando que é necessário para impedir que os bancos manipulem o sistema.

Os dois lados fincaram o pé e as negociações chegaram a um impasse desde o final do ano passado, quando as conversas se aproximaram de um acordo na capital chilena.

O Comitê da Basileia não publicou os resultados de um estudo de impacto quantitativo, que mediu o efeito do piso sobre os índices de capital. Analistas fizeram estimativas com base em uma proposta anterior, de evolução gradual do piso até 75 por cento em 2027.

Sob tal hipótese, o Índice de Capital de Nível 1 dos bancos europeus diminuiria 2,40 pontos percentuais no estágio final, de acordo com cálculos de analistas do Morgan Stanley divulgados no mês passado. Bancos da Escandinávia, Holanda e Suíça seriam os mais afetados. Porém, graças ao prolongado período de introdução gradual, os analistas "não esperam qualquer ação de capital ou cortes de dividendos" por causa das medidas propostas, segundo nota distribuída a clientes.

--Com a colaboração de Silla Brush Birgit Jennen Alexander Weber Carolynn Look Yalman Onaran Helene Fouquet e Alessandra Migliaccio