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Não existe tempo feio nas bolsas de mercados emergentes

Aline Oyamada

18/10/2017 15h07

(Bloomberg) -- Que ninguém se engane por causa de um tropeço. Foi este o recado das bolsas de mercados emergentes quando se recuperaram do primeiro mês de queda do ano.

Do Brasil à Turquia, os mercados acionários voltaram a se aproximar de recordes, após o término da mais longa sequência de ganhos em mais de uma década. Recomendações favoráveis de JPMorgan Asset Management, UBS Group e outros ajudaram a impulsionar a avanço dos papéis, que obrigou pessimistas a cobrir mais de US$ 700 milhões em posições short em apenas dois dias.

As bolsas de mercados emergentes subiram mais de 30 por cento em 2017 e caminham para o melhor desempenho anual em oito anos. Tirando um enorme choque global, nada parece abalar os investidores.

Eles ignoraram preocupações em relação aos preços elevados das ações, à alta dos custos de captação nos países em desenvolvidos e a turbulência política, optando por tomar mais riscos a fim de obter mais retorno, focando nas expectativas de crescimento maior da economia e dos lucros das empresas.

"É bem razoável haver uma correção", disse Brian Wolahan, gestor sênior de portfolio da Acadian Asset Management, em Boston, que ajuda a supervisionar US$ 86 bilhões em recursos. "Eu me preocuparia se visse taxas de retorno positivas ininterruptamente, mês após mês; isso me deixaria mais nervoso do que uma correção eventual." Ele permanece otimista, apontando que as ações de mercados emergentes ainda são negociadas com desconto substancial em relação aos mercados desenvolvidos, em termos históricos.

Wolahan não está sozinho. O UBS mantém a posição comprada em ações de mercados emergentes em oposição a títulos corporativos denominados em dólar. O banco tem alocações concentradas na China, Rússia, Indonésia, Tailândia e Turquia. Apesar da recente tensão diplomática entre EUA e Turquia, as revisões para cima das estimativas dos resultados das empresas turcas seguem robustas, segundo Lucy Qiu, estrategista para mercados emergentes do UBS em Nova York.

Uma pesquisa da Bloomberg aponta que o diferencial de crescimento entre mercados emergentes e desenvolvidos vai se ampliar nos próximos dois anos. A previsão é que o crescimento do PIB nos emergentes se acelere de 4,5 por cento neste ano para 5 por cento em 2019. No caso das economias desenvolvidas, a estimativa é de desaceleração de 2,2 por cento para 1,9 por cento durante o mesmo período.

A divergência torna as ações de países emergentes mais atraentes, segundo Gabriela Santos, estrategista de mercados globais da JPMorgan Asset Management. Na visão dela, isso reforça a expectativa de estabilidade cambial e expansão de dois dígitos nos lucros corporativos. A instituição prefere ações de países em desenvolvimento e entende que os títulos denominados em dólares estão caros e mais vulneráveis à alta de juros nos EUA.

"Os investidores globais ainda têm alocação desproporcionalmente menor em ações de emergentes e já maior do que o proporcional em títulos de emergentes, o que deve viabilizar fluxos adicionais para as bolsas emergentes, à medida que o apetite por risco permanece forte", disse Santos. A JPMorgan Asset Management recomenda ações de Taiwan, Coreia do Sul, Rússia e Brasil.

A disparada dos mercados emergentes neste ano também criou bolsões de ações sobrevalorizadas, na visão de Erik Zipf, gestor de carteiras da DuPont Capital Management. Para ele, os preços de ações de internet na China e setores de consumo básico em geral estão esticados e há mais valor em papéis do Brasil, África do Sul e bancos do Leste Europeu.

A perspectiva para os mercados emergentes é positiva porque a maioria dos países tem fundamentos bons ou em evolução, disse Jan Dehn, chefe de pesquisa da Ashmore Group. O posicionamento de investidores em ações de nações em desenvolvimento ainda é pequeno, disse ele.

"Os investidores precisam comprar ativos de mercados emergentes antes que possam vendê-los, certo?", colocou Dehn.

--Com a colaboração de Carlos Torres