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Ex-engenheira do Twitter tenta comprovar discriminação de gênero

Joel Rosenblatt

23/10/2017 12h53

(Bloomberg) -- Tina Huang afirma que o caminho que a levou a pedir demissão do Twitter foi uma experiência kafkiana. Ela disse que lhe negaram uma promoção, fizeram com que ela acreditasse que suas habilidades de codificação eram inferiores, pediram que ela solicitasse uma licença e depois recriminaram-na por ter tomando essa licença.

Dois anos atrás, ela entrou com um processo, afirmando que a empresa trava sistematicamente o avanço das engenheiras. Desde então, ela vem reunindo informações sobre o gênero e a remuneração de seus colegas na empresa e diz que pode provar que o Twitter manipula a situação. Em janeiro, ela pretende pedir autorização a um juiz estadual para representar 133 engenheiras do Twitter em um processo que, se for certificado, será a primeira ação coletiva desse tipo no Vale do Silício.

Huang disse em uma entrevista que chegou a hora de fazer algo que nunca foi feito antes: derrubar as firmes barreiras dominadas pelos homens no setor de tecnologia. Um dos catalisadores, disse ela, foi uma publicação de fevereiro do blog de Susan Fowler, engenheira da Uber Technologies, que detalhou um ambiente de trabalho predatório, brigas internas, uma organização "caótica" e assédio sexual evidente. Essa publicação ajudou a provocar a saída do fundador e CEO da empresa.

"Não apenas vimos uma ação real acontecer na Uber, o assunto também começou a ser mais discutido" depois disso, disse Huang. "As mulheres se sentiram encorajadas com isso."

O Twitter rejeitou as acusações de Huang nos autos e em um comunicado, afirmando que ela pediu demissão voluntariamente depois de não ter recebido uma segunda promoção e que diretores da empresa tentaram convencê-la a ficar.

"O Twitter está profundamente comprometido com um ambiente de trabalho diversificado e solidário, e acreditamos que os fatos vão mostrar que a Sra. Huang foi tratada de maneira justa", afirmou a empresa.

História maior

Desde que o processo foi apresentado, a dinâmica do Vale do Silício mudou. Em setembro, três mulheres no Google processaram a empresa em uma ação coletiva, afirmando que funcionários do sexo masculino recebem sistematicamente mais do que suas colegas mulheres. Além disso, nos últimos meses várias mulheres têm expressado publicamente queixas contra empresas de tecnologia e de capital de risco alegando assédio sexual, ressaltando as dificuldades que as mulheres enfrentam cultural e profissionalmente.

"Ouvir as histórias de muitas outras mulheres me ajudou a entender como meu incidente, embora único em seus detalhes, faz parte de uma história maior", disse Huang. "É basicamente impossível para qualquer indivíduo saber com 100 por cento de certeza que sua promoção lhe foi negada devido ao gênero. A única maneira de entender esse viés sistêmico é que todas nós compartilhemos nossa experiência, para que possamos analisar o que está acontecendo como um todo."

Jason Lohr, advogado de Huang, diz que os números têm força. "Você não pode virar para todas as engenheiras do Twitter e dizer que há um problema com todas elas."

--Com a colaboração de Anne Reifenberg