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Novas regras europeias estragam Natal do setor financeiro

Stefania Spezzati e Sarah Ponczek

23/10/2017 12h15

(Bloomberg) -- O responsável pela área de negociação de câmbio da Deutsche Asset Management já avisou que a temporada de Natal deste ano não será festiva para muita gente.

O advogado Neil Robson conta que chega a trabalhar 16 horas por dia para ajudar clientes nos preparativos.

Os dois se preocupam com a Diretiva de Mercados em Instrumentos Financeiros (conhecida pela sigla MiFID II), uma grande revisão nas regras para o setor de serviços financeiros na União Europeia que entra em vigor em janeiro, com o objetivo de impor mais transparência ao remover conflitos de interesse nos mercados. A revisão também obriga profissionais do ramo e consultores a trabalhar até tarde para deixar tudo pronto para a maior mudança em uma década nos regulamentos na região.

A Autoridade de Conduta Financeira alertou no mês passado que algumas firmas não conseguiram atender os prazos que garantem que estarão prontas para cumprir as regras. Os próprios órgãos reguladores da UE ainda precisam tomar decisões importantes em relação à legislação e existe risco de as regras entrarem em discrepância com as do exterior, aumentando a confusão. As instituições financeiras dos EUA, em especial, "parecem mal preparadas" para as mudanças, segundo relatório que analistas do UBS Group enviaram a clientes em 2 de outubro.

Pouca capacidade

"Alguns gestores de fundos começaram a ver isso só agora", disse o advogado Robson, sócio da área regulatória e de compliance do escritório Katten Muchin Rosenman. Ele fez sua primeira apresentação sobre as novas regras há sete anos e avisa a quem ficou para trás que "há pouquíssima capacidade na City para aceitar novos clientes", se referindo ao distrito financeiro de Londres.

No final do ano passado, os bancos na Europa empregavam 2,8 milhões de trabalhadores, o menor nível desde 1997 pelo menos. As instituições automatizaram mais funções e eliminaram vagas para restaurar balanços patrimoniais destruídos pela crise financeira. Apesar dos cortes de postos de trabalho, os bancos precisam remunerar profissionais adicionais na área de compliance.

"O que acontece com a sua vida social neste ambiente?", questionou Michael Ingram, estrategista de mercados da BGC Partners. "Desaparece, mas também são poucos os colegas que restaram para conviver socialmente."

Estudando regras

Um gestor de fundos que trabalha em Londres e está bastante envolvido na implementação da diretiva conta que ele e seus colegas de equipe estão irritados por passar a maior parte do tempo livre estudando as regras. O profissional, que pediu anonimato porque não tem autorização para falar com a imprensa, conta que não consegue ir a encontros ou festas depois do trabalho porque precisa ficar a par da novidade.

"Não é uma típica conversa de coquetel, a pessoa foge se você começa a falar de MiFID", disse
Priya Misra, estrategista-chefe de juros globais da TD Securities, acrescentando que a diretiva aumentou os problemas dos departamentos de pesquisas.

"Eu preciso entender o Fed e os juros e também lidar com MiFID? Não está nada divertido."

Veteranos do setor dizem que a rotina vai se acomodar quando todos tiverem digerido as novas regras. A Autoridade Europeia dos Valores Mobiliários e dos Mercados também sinalizou que adotará uma "abordagem bastante cautelosa" quando as regras forem introduzidas.

"Minha experiência com mudanças nos regulamentos é que, assim que entram em vigor e o sistema se adapta, fica tudo menos intenso", disse Christian Gattiker, chefe de pesquisa da Julius Baer Group, em Zurique. "Assim que se familiarizar com os novos padrões regulatórios, você pode voltar a pensar na sua vida."