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Yellen encontra um aliado improvável na Casa Branca: Trump

Craig Torres e Jennifer Jacobs

25/10/2017 14h23

(Bloomberg) -- O único defensor de Janet Yellen dentro da Casa Branca pode ser o que mais importa: o presidente Donald Trump.

A atual comandante do banco central americano (Federal Reserve) mostrou desenvoltura impressionante durante uma entrevista com Trump no Salão Oval na quinta-feira, de acordo com diversas pessoas com conhecimento do ocorrido. Ela deixou claro ao presidente que quer continuar no cargo, não apresentou condições para ser nomeada a um segundo mandato e as sugestões dela para o cargo de vice-presidente da instituição foram bem recebidas pela equipe de Trump.

Yellen, a primeira mulher a comandar o Fed, também explicou que a economia vai bem e que as medidas da instituição têm favorecido o crescimento. Trump entraria em conflito com a ala conservadora de seu Partido Republicano se indicá-la a um novo mandato, sendo que o dela termina em fevereiro. Ele disse que vai tomar a decisão até 3 de novembro.

Em almoço com senadores republicanos na terça-feira, Trump pediu que os presentes levantassem a mão para demonstrar apoio a Yellen ou outros candidatos à função - John Taylor, economista da Universidade de Stanford, e Jerome Powell, diretor do Fed. Trump não anunciou um vencedor e a maioria dos senadores não se manifestou. Mas considerando os que levantaram a mão, "acho que Taylor ganhou", contou o senador Tim Scott, da Carolina do Sul.

A confiança no banco central é essencial para a continuidade do crescimento econômico e da geração de empregos, que Trump frequentemente cita como conquistas importantes. O presidente também costuma falar sobre o avanço das bolsas desde a eleição dele, movimento que pode ser ameaçado caso os mercados financeiros entendam que ele tem intenção de mudar o rumo do Fed.

Sob a batuta de Yellen, a taxa de desemprego chegou a 4,2 por cento em setembro, a menor em 16 anos, e a economia americana está no nono ano de expansão. Inflação e juros estão baixos e ela está retirando gradualmente as medidas implementadas para combater a crise e reduzindo o balanço patrimonial do Fed, de US$ 4,5 trilhões.

Uma porta-voz do Fed, Michelle Smith, se recusou a comentar sobre a perspectiva de Yellen ser novamente indicada ao cargo.

Dentro da Casa Branca, a entrevista de Trump com Yellen foi considerada para valer e não apenas uma cortesia, de acordo com duas fontes. Segundo essas pessoas, o presidente realmente pensa nela como candidata de peso, apesar do receio dos principais assessores dele.

"Eu realmente gosto muito dela", ele disse em entrevista ao canal Fox Business Network realizada na sexta-feira e exibida no domingo.

Na mesma entrevista, Trump citou Taylor e Powell como candidatos ou uma combinação, dado que a posição de vice-presidente do Fed também está aberta.

Revide político

As políticas expansionistas do Fed durante a crise financeira global ? quando a instituição resgatou o Bear Stearns e a American International Group (AIG) ? se tornaram alvo de críticas generalizadas e os republicanos defendem uma postura mais contida por parte do banco central.

Todos os três antecessores de Yellen foram novamente indicados por um presidente do partido de oposição àquele do presidente responsável pela nomeação inicial. A questão da diversidade também pesa na escolha, uma vez que a nomeação de Yellen foi um passo importante para as mulheres nas finanças e na economia.

No entanto, ela não tem apoio de importantes republicanos integrantes do Comitê de Bancos do Senado (que votarão no nome escolhido por Trump) nem de funcionários da Casa Branca ou aliados de Trump, que defendem a troca de comando no banco central.

--Com a colaboração de Steven T. Dennis