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Airbus baixa a guarda e convida Trump a contra-atacar: Gadfly

Chris Bryant

31/10/2017 14h24

(Bloomberg) -- Se você planeja fazer de boba uma concorrente dos EUA, é fundamental garantir que você não tenha segredos do passado que as autoridades do país possam usar para envergonhar você.

A Airbus parece ter esquecido essa lei básica da selva corporativa internacional. No mês passado, a empresa europeia dos setores aeroespacial e de defesa fechou acordo para assumir uma participação majoritária no programa de jatos comerciais CSeries da Bombardier, ao qual o governo do presidente dos EUA, Donald Trump, havia aplicado taxas de importação punitivas a pedido da Boeing. Ao estabelecer a produção do CSeries nos EUA, a Airbus acredita ser capaz de driblar as tarifas.

A Airbus parecia ter vencido a partida -- mas, ingenuamente, deu aos EUA a chance do contra-ataque. Na terça-feira, a empresa europeia anunciou que havia informado às autoridades americanas várias lacunas no relatório sobre o uso de agentes de vendas e comissões para garantir contratos de exportações militares. Com essas falhas, a empresa pode ter violado a regulação sobre o comércio internacional de armas dos EUA. A Airbus afirmou que estava cooperando, mas não pôde estimar o tamanho da penalidade que poderia sofrer.

O anúncio não ajuda, para dizer o mínimo. A Airbus já é alvo de várias investigações por corrupção na Europa, relacionadas ao uso de intermediários de vendas, e advertiu que as penalidades podem ser significativas.

Esses processos, aliados aos gargalos atuais da produção de aeronaves relacionados ao jato comercial A320neo e ao transportador militar A400m, estão derrubando o preço das ações da Airbus, que vem perdendo para o preço das ações da Boeing nos últimos meses -- apesar da grande fila de encomendas da empresa e da forte demanda por viagens aéreas.

O frustrante é que a Airbus não é senhora de seu próprio destino nesse caso: as dificuldades do A320neo refletem os problemas com um novo motor com eficiência de combustível fabricado pela fornecedora norte-americana Pratt & Whitney -- a Airbus já não espera atingir a meta de entregar 200 jatos do tipo nesse ano. E a Airbus obviamente não está em condições de determinar o ritmo ou o resultado das investigações por corrupção.

Na verdade, a Airbus está acostumada a sofrer hostilidades do outro lado do Atlântico -- está envolvida em uma disputa comercial retaliatória com a Boeing há anos, em que as fabricantes se acusam mutuamente de receber subsídios. Mas com os gargalos na produção e os desafios da integração do CSeries, a empresa não pode se distrair. A menos que a Airbus consiga lançar mais luz sobre a questão dos agentes de vendas, os investidores ficarão preocupados com o fato de a empresa ter baixado a guarda para os EUA contra-atacarem.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.