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Os sete riscos políticos ignorados por investidores na Europa

Viktoria Dendrinou

31/10/2017 13h38

(Bloomberg) -- Embora a confiança na economia da zona do euro esteja nos maiores níveis em registro, riscos políticos que fervilham em toda a União Europeia ainda ameaçam a frágil recuperação do bloco.

Ajudada por mais de 2 trilhões de euros (US$ 2,3 trilhões) em compras de títulos pelo Banco Central Europeu, a economia da região ganhou fôlego. No entanto, o desempenho eleitoral pior do que o esperado para o partido da chanceler Angela Merkel na Alemanha e a queda da popularidade do presidente francês Emmanuel Macron diminuíram as esperanças de renovação do centro franco-germânico da UE. Eleições na Itália e a repressão na Catalunha sem resolver o clamor por autonomia colocam em risco essas economias e lançam dúvidas sobre a retomada da atividade no bloco.

A postura de acomodação monetária do BCE acalmou os mercados e impulsionou a economia, mas também deixou os integrantes do bloco complacentes em relação a reformas necessárias, o que pode exacerbar crises futuras, de acordo com Carsten Nickel, diretor-gerente da Teneo Intelligence. Quando o BCE apertar as condições monetárias, "todo o risco político passará à frente", ele prevê.

Secessão da Catalunha

Após o Parlamento catalão votar pela declaração de independência da Espanha na semana passada, o primeiro-ministro Mariano Rajoy usou poderes extraordinários concedidos pelo Senado para expulsar os separatistas. O esforço de Rajoy para manter a unidade da Espanha prevalece por ora, mas as eleições em 21 de dezembro criam incertezas em relação ao futuro constitucional da região que representa aproximadamente 20 por cento do PIB espanhol.

Eleições na Itália

A quarta maior economia da UE realizará eleições no primeiro semestre de 2018, em um processo que deixa autoridades em Bruxelas ansiosas em relação às implicações para o sistema econômico e financeiro do país. As eleições devem testar o relacionamento ambíguo da Itália com o euro, o endividamento crescente e os problemas do sistema bancário, que ainda tenta se livrar de ativos tóxicos.

Coalizão na Alemanha

Passadas cinco semanas desde as eleições na Alemanha, os quatro partidos envolvidos nas negociações para formação de uma coalizão ainda não concordaram a respeito de questões importantes como o futuro da zona do euro, a proteção ao clima e a reforma da imigração. O acordo final vai determinar a postura do governo alemão em relação a algumas das questões mais importantes para a UE e pode guiar a evolução dos principais debates que acontecem no bloco. O resultado das negociações da coalizão também pode decidir se Merkel continuará com papel dominante na UE ou se o poder dela diminuirá.

A posição de Macron na França

Embora a ascensão de um candidato favorável ao euro como Macron tenha dado força à UE, a queda da popularidade dele desde que foi eleito leva muita gente a duvidar que o presidente de 39 anos conseguirá implementar as mudanças que defende para a França e para a Europa.

Brexit

As negociações para a saída do Reino Unido da UE permanecem em um impasse, apesar das promessas de ambas as partes para acelerar o processo. Persistem as diferenças em relação a questões como a conta final que o Reino Unido precisará pagar quando sair. Os dois lados dizem que desejam um acordo justo, mas países da UE na semana passada concordaram em elaborar planos entre si caso não haja progresso relevante quando os líderes se encontrarem em dezembro.

O fato de haver ou não um acordo para o Brexit até março de 2019 vai determinar não só o acesso do Reino Unido a seu maior mercado como também a possibilidade de as empresas europeias continuarem vendendo seus produtos para os britânicos de forma ininterrupta.

Distância entre Europa Ocidental e Leste Europeu

O governo polonês é o principal alvo da campanha da UE para conter integrantes menos alinhados. Líderes populistas na Polônia e na Hungria foram encorajados pela eleição de Donald Trump à Casa Branca e pela decisão do Reino Unido de sair da UE, desafiando o bloco em questões como legislação e migração.

A vitória de um partido de oposição ao euro nas eleições ao Parlamento da República Checa também enfraqueceu o esforço por maior integração da UE e ressaltou a influência de partidos contrários ao establishment no bloco. Na Áustria, os eleitores abriram caminho para o Partido da Liberdade, de caráter nacionalista, entrar no governo, sinalizando uma guinada à direita que pode fazer do país um aliado menos confiável para seus parceiros europeus.

Migração

O fluxo de imigrantes continua preocupando os líderes da UE, que concordaram neste mês com uma abordagem que inclui "vigilância em todas as rotas migratórias e prontidão para reagir a novas tendências". O bloco lida com o maior volume de entrada de migrantes desde a Segunda Guerra Mundial, ameaçando a livre circulação de pessoas sem visto pela Europa. A situação está menos grave do que em 2015, quando foram registrados 1,82 milhão de episódios ilegais de cruzamento de fronteiras na UE, mas ainda tem grande importância em países como Áustria e Alemanha, onde a migração é um assunto de peso para o eleitorado.