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Retomada pode depender de candidato que ainda não existe

Felipe Marques, Cristiane Lucchesi e David Biller

08/11/2017 11h58

(Bloomberg) -- Pergunte à elite bancária de São Paulo quem vai ganhar a próxima eleição presidencial e eles responderão que será alguém que defende reformas fiscais e privatizações. O único problema é que o nome desse candidato ainda não está definido.

Banqueiros parecem confiantes não só que um candidato favorável ao mercado irá surgir nos próximos meses como que ele ganhará as eleições em outubro do próximo ano. Se eles estiverem errados, o mercado de ações pode estar com problemas.

Alguns dos principais banqueiros do país, em conversas durante o mês de outubro, disseram que os preços dos ativos no Brasil, em níveis recordes nesse momento, refletem a perspectiva de que o país vai ampliar a recuperação econômica em 2018, reforçando o argumento para a vitória de um candidato de centro-direita que promova as reformas e eleve a confiança do investidor. Todos os banqueiros ouvidos pediram para falar na condição de anonimato.

Se o otimismo deles é ingênuo ou não, uma coisa é certa: 2018 se configura como um ponto de inflexão na democracia brasileira há três décadas.

Candidatos de todos os espectros políticos estão aparecendo para competir no próximo ano encorajados por dois anos de recessão e escândalos que levaram ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e quase derrubaram seu sucessor.

Enquanto as opções para as eleições de outubro podem ser muitas, os banqueiros dizem que vêem apenas duas escolhas reais: os eleitores se manterão com as políticas de esquerda das últimas décadas que alimentaram um boom e a pior recessão registrados?

Ou eles se voltarão para a direita - não completamente, mas o suficiente para manter em curso a reforma da Previdência, as privatizações e revisões regulatórias em meio a uma nascente recuperação?

Investidores em ações e títulos públicos acreditam já ter a resposta. Seu entusiasmo ajudou a levar o Ibovespa a uma alta de 21% este ano, enquanto as empresas brasileiras emitiram 3,5 vezes mais ações que no ano passado. Fusões e aquisições saltaram 32% sobre o mesmo período do ano passado, segundo dados compilados pela Bloomberg

Até agora, os candidatos na corrida presidencial não garantem esse otimismo, disse João Augusto de Castro Neves, diretor para a América Latina da Eurasia.

Pensamento positivo

"A visão de que há uma chance muito alta que um candidato de centro-direita vá ganhar é um pouco exagerada", disse ele. "Você pode argumentar que a esquerda será menos competitiva, mas há algum grau de pensamento positivo de que um candidato favorável ao mercado vença".

Ao invés do candidato mítico que os banqueiros esperam, Castro Neves diz que há uma chance de populismo - da esquerda ou da direita, ou ambos - que influenciará o resultado das eleições. Pesquisas recentes confirmam isso.

O que o Brasil precisa agora, dizem os banqueiros, é um candidato que possa avaliar quão frágil é a recuperação e realize as reformas iniciadas pelo presidente Michel Temer.

"Teremos mais nomes na corrida nos próximos meses", disse Castro Neves da Eurasia. "A paisagem vai mudar. Hoje, as pesquisas revelam um pouco sobre as demandas dos eleitores, que estão insatisfeitos com a classe política, mas não muito sobre os candidatos. Isso só será definido em abril."