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Bitcoin não é bolha, diz investidor com aposta de US$ 213 mi

Edward Robinson

10/11/2017 13h31

(Bloomberg) -- Tim Draper caminhava pelo pavilhão de uma conferência de tecnologia em Lisboa, na terça-feira, quando foi encurralado por um empreendedor que promovia uma nova moeda digital. Depois de ouvir o discurso de venda, o investidor foi abordado por outra pessoa que vendia sua própria oferta inicial de moedas. Depois veio outra, e mais outra.

O motivo que levou os vendedores de criptomoedas até Draper não é mistério. Fundador da empresa de capital de risco Draper Fisher Jurvetson, do Vale do Silício, ele financiou nomes como Hotmail, Skype e Tesla e disse que se apaixonou pelo bitcoin logo após seu lançamento, em 2009. Em fevereiro de 2014, teve 40.000 bitcoins roubados quando a Mt. Gox, uma grande bolsa de criptomoedas do Japão, foi hackeada e deixou de operar. Na época, Draper tinha certeza de que o escândalo representaria o fim da era bitcoin.

"O preço caiu 10 a 20 por cento com a notícia e eu pensei 'isso não é nada, deveria ter caído para zero'", disse Draper, em entrevista no WebSummit 2017, em Lisboa.

Alguns meses após o roubo de 2014, ele comprou 30.000 bitcoins em um leilão realizado pelo Serviço de Delegados dos EUA. Os promotores haviam apreendido os tokens como parte do processo contra o Silk Road, um bazar da dark web usado para venda de narcóticos e outros itens de contrabando. Na época, o bitcoin era negociado a cerca de US$ 600, o que significa que Draper pagou cerca de US$ 18 milhões pelo lote. Hoje, o valor desses bitcoins é de US$ 213 milhões, um salto de 1.083 por cento. Draper defende a criptomoeda descaradamente desde então.

"Essa é a maior tecnologia inventada desde a internet", disse Draper, um homem esguio que estava usando uma gravata vermelha com símbolos do bitcoin. "Trata-se de uma transformação sociológica, um movimento."

E também de uma bolha épica, segundo os céticos, entre eles Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase. Muitos investidores ainda não conseguem definir o bitcoin. É uma moeda? Uma commodity? Uma reserva de valor, como o ouro? Empreendedores de todo o mundo estão inundando a internet com imitações -- há mais de 1.270 moedas ou tokens digitais no mercado atualmente, com um valor total de US$ 205 bilhões, segundo o website CoinMarketCap, que monitora o setor.

No WebSummit, uma reunião anual de mais de 60.000 especialistas em tecnologia, os anúncios dos novos ICOs chegaram com fúria -- por exemplo a Uniti, primeira criptomoeda com "certificação verde" do mundo, e outra chamada Valhalla, que afirma que pode ajudar as pessoas a se recuperarem de desastres naturais. Indagado se o mercado vai implodir, a exemplo do estouro da bolha das pontocom no fim dos anos 1990, Draper balançou a cabeça.

"As pessoas sempre vão dizer que existe um problema e isso normalmente significa que há muito mais potencial de alta", disse o investidor, que atualmente dirige a empresa de capital de risco Draper Associates.

Mas, e quanto às fraudes? Os órgãos reguladores temem cada vez mais que, na ânsia de ganhar dinheiro rapidamente, muitos investidores, especialmente membros da geração Y novatos nos mercados de capitais, coloquem dinheiro em negócios escusos, não em empresas. A China e a Coreia do Sul proibiram os ICOs e a Suíça impôs regras para a chegada deles ao mercado. A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês) atualmente exige que os ICOs sejam cadastrados como IPOs.

Draper dá de ombros. Os investidores devem fazer a lição de casa e examinar quem executa os ICOs e se os planos de negócios parecem legítimos, disse.

"Eu arrisco bastante", disse ele, rindo. "Perco dinheiro 60 por cento do tempo."