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Brasil derrota exportadores do Mar Negro em vendas à Europa

Isis Almeida, Agnieszka de Sousa e Tatiana Freitas

14/11/2017 15h42

(Bloomberg) -- São tempos difíceis para os traders de milho no Mar Negro.

Após a safra recorde no Brasil, o segundo maior exportador mundial, os países da região conhecida pela terra escura e fértil estão tendo mais dificuldades para vender aos compradores tradicionais da Europa e do Oriente Médio. A dificuldade é tanta que o Brasil superou a Ucrânia e foi o maior fornecedor da União Europeia nos quatro primeiros meses da safra global.

Como se não bastasse, a situação pode não melhorar tão cedo para os traders do Mar Negro. Os EUA e a Argentina estão chegando com grandes colheitas, que manterão a pressão quando o ritmo recorde de exportações do Brasil começar a diminuir, disse Pedro Dejneka, sócio da consultoria MD Commodities, em Chicago.

"O Brasil está exportando incríveis quantidades de milho e continuará a fazê-lo", disse ele, antes de discursar na Conferência Global de Grãos, em Genebra. "O Brasil lidera o grupo, seguido pela Argentina, mas os EUA também estão tentando encontrar uma maneira de vender milho. Está complicado para o Mar Negro."

A UE importou quase quatro vezes mais milho do Brasil no período de quatro meses até 31 de outubro, segundo dados da Comissão Europeia. Com isso, a participação brasileira subiu de 25 por cento, há um ano, para 58 por cento. Apesar de os carregamentos vindos da Ucrânia também terem subido 24 por cento devido à colheita ruim da UE, a participação de mercado do país caiu mais de 9 pontos percentuais.

Salto na produção

A produção brasileira de milho subiu 47 por cento, para um recorde de 98 milhões de toneladas na safra 2016-17, com a produção se recuperando após uma seca na temporada anterior, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O aumento permitiu que o Brasil ganhasse mercados normalmente dominados pela Ucrânia, onde a colheita de milho está sendo adiada pelas chuvas. Os carregamentos de milho do Brasil para a Espanha aumentaram mais de 500% e o Egito quadruplicou a importação entre julho e outubro, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

"Os compradores da região da Europa, do Oriente Médio e da África relutam em considerar qualquer oportunidade na Ucrânia para posições próximas devido ao excedente de milho nos armazéns europeus, importado principalmente da América do Sul", disse Dmytro Furda, trader da Nibulon, uma empresa ucraniana que comercializa commodities agrícolas.

As melhorias na infraestrutura de embarques, com o aumento da capacidade nos portos do norte nos últimos anos, também ajudaram a tornar o Brasil mais competitivo no mercado internacional do milho, disse Ana Luiza Lodi, analista da INTL FCStone em Campinas, São Paulo. O suporte à comercialização de quase 10 milhões de toneladas de milho em leilões promovidos pela Conab também contribuiu para aumentar oferta para a exportação, disse ela.

Com a super oferta global de milho, os futuros negociados em Chicago caminham para um quinto ano de queda, maior sequência de perdas registrada desde 1959. Os preços mais baixos e o aumento do euro em relação ao dólar levaram a UE a impor taxas de importação ao grão pela primeira vez desde 2014. A taxa também é uma desvantagem para a Ucrânia porque o grão proveniente de determinadas rotas do Atlântico recebe desconto.