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No México, esquerda e direita reivindicam bandeira da Revolução

Eric Martin

22/11/2017 15h48

(Bloomberg) -- No México, todos os políticos querem ser vistos como verdadeiros herdeiros da Revolução de um século atrás. Isso os coloca ao lado das massas e permite que eles se identifiquem com as dificuldades da vida cotidiana, como a pobreza e a insegurança, mesmo quando fazem parte do status quo.

Portanto, foi assim que, na segunda-feira, o presidente Enrique Peña Nieto, epítome do establishment, e o candidato radical de esquerda Andrés Manuel López Obrador, que quer substituí-lo, realizaram eventos para o Dia da Revolução no icônico Paseo de la Reforma.

López Obrador, ex-prefeito da Cidade do México duas vezes derrotado em eleições pelo cargo mais elevado do país, discursou para uma multidão de 10.000 apoiadores no Auditório Nacional em meio a cantos de "presidente" e "vida longa ao México". Horas depois, Peña Nieto encabeçou uma rebuscada celebração perto dali com direito a sinfonia e bailarinos folclóricos vestidos como camponeses, que se apresentaram em um palco armado nos campos de equitação e que também são a base de sua guarda presidencial.

Os analistas discutem até que ponto López Obrador faria uma revolução política e econômica se eleito em julho próximo. Amlo, como é popularmente conhecido, promete agitar as coisas arrancando a corrupção pela raiz, reduzindo o tamanho do governo, eliminando gastos desnecessários e restaurando a segurança em um país assolado pela violência. Fala também em reavaliar algumas das reformas favoráveis ao setor privado aprovadas por Peña Nieto.

O Partido Revolucionário Institucional de Peña Nieto, ou PRI -- chamado de "ditadura perfeita" em suas sete décadas ininterruptas de governo, terminado em 2000 --, e o conservador Partido de Ação Nacional, conhecido como PAN, procuram pintar López Obrador como um fanático perigoso que levará o México para o caminho socialista da Venezuela. Outros o comparam a Donald Trump, caracterizando-o como um nacionalista beligerante e impetuoso.

López Obrador procurou debelar as comparações desfavoráveis de ambos os lados nesta segunda-feira, dizendo: "não somos inspirados por nenhum governo estrangeiro, nem por Maduro, nem por Donald Trump, que fique claro. O que nos inspira são os pais de nossa nação", invocando o herói da revolução, Francisco Madero, cujo chamado às armas ajudou a derrubar o ditador Porfirio Díaz, em 1910.

As chances do candidato podem ser maiores desta vez devido à baixa popularidade de Peña Nieto, que tocou mínimas recorde para um presidente mexicano devido aos escândalos de corrupção protagonizados por governadores de seu partido e por uma polêmica investigação por conflito de interesse de membros do círculo íntimo do presidente, que os exonerou. Apesar de o PRI ainda não ter escolhido seu candidato, López Obrador deve concorrer em um panorama de insatisfação pública com o governo atual, disse Jorge Castañeda, ex-ministro das Relações Exteriores do México pelo PAN.

Por enquanto, os investidores estão mais concentrados nos esforços do governo de Peña Nieto para renegociar o Tratado de Livre Comércio da América do Norte com os EUA do que nas eleições de daqui a sete meses. O peso subiu na terça-feira com os sinais de progresso em assuntos de menor importância do Nafta, embora as partes continuem distantes de um acordo em relação aos pontos mais polêmicos.