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Tom duro de Meirelles por reforma da Previdência tem apoio no mercado

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles - Sergio Lima / AFP
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles Imagem: Sergio Lima / AFP

Josue Leonel

22/11/2017 16h22

(Bloomberg) -- O mercado financeiro endossa o tom de advertência que vem sendo usado recentemente pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em relação à reforma da Previdência.

Analistas e administradores de fundos não veem o país quebrando no curto prazo, mas fazem eco com os alertas feitos recentemente pelo ministro, para quem a dívida brasileira pode ficar impagável e o país viver situação semelhante à da Grécia, que sofreu grave crise no começo da década. 

"Se não houver solução para a Previdência, a trajetória da dívida fica insustentável", diz Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, em entrevista por telefone. O fato de a dívida bruta brasileira, de 73,87% do PIB (Produto Interno Bruto), ser ainda baixa se comparada à da Grécia, de quase 180% do PIB, não reduz a preocupação, segundo Kawall.

Sem conter os gastos e com um deficit público que chega a quase 9% do PIB, a dívida poderá crescer rapidamente se as despesas não forem contidas. "Não vamos virar a Grécia no curto prazo, mas no médio prazo podemos virar", diz o economista.

Durante palestra em fórum realizado na Bahia na última segunda-feira (20), Meirelles disse que, sem a reforma da Previdência, não vão sobrar recursos nem mesmo para saúde e educação. O ministro citou o caso da Grécia, que teve que cortar valores pagos a trabalhadores já aposentados. Mesmo reduzindo gastos, o país europeu teve de reestruturar sua dívida.

No dia seguinte, Meirelles manteve o tom e afirmou a congressistas em Brasília que, sem cortar as despesas da Previdência, a dívida pública terá crescimento explosivo e pode se tornar impagável.

A possibilidade de que Meirelles esteja sendo mais duro apenas para obter apoio dos parlamentares, que relutam em votar cortes de gastos a um ano das eleições, é descartada pelo economista-chefe do Goldman Sachs para a América Latina, Alberto Ramos.

"Infelizmente, não é alarmismo, é realismo", diz Ramos, para quem a reforma é fundamental tanto do ponto de vista fiscal e econômico quanto da justiça social. "Muitos dos gastos da Previdência são privilégios e precisam ser cortados para que haja mais equidade." Além disso, sem reforma não haverá mais dinheiro para os investimentos, que já estão baixos, segundo o economista.

Jim Barrineau, diretor de mercados emergentes da administradora de recursos Schroders, avalia que o discurso de Meirelles é dirigido para reforçar o apoio do Congresso à reforma da Previdência.

Para Barrineau, pagar a dívida só ficaria impossível em um período de tempo muito longo. Mesmo em um prazo mais moderado, contudo, ele reconhece que o fracasso da reforma contribuiria para uma "contínua deterioração das métricas de crédito".

A tendência em Brasília é de que o governo limite a reforma da Previdência a três pontos considerados básicos, que são a idade mínima, a regra de transição e igualdade de condições para servidores públicos e privados.

Essa reforma mais enxuta traria algum alívio, mas significaria que o próximo presidente já deve assumir em 2019 tendo de fazer uma nova reforma, diz Ramos, do Goldman. Para o economista, mesmo a reforma completa seria apenas um primeiro passo, fundamental, mas não suficiente, para um ajuste fiscal completo.

A hipótese de nenhuma reforma ser aprovada é vista como negativa tanto para o mercado quanto para a economia. Kawall, que chegou a comandar o Tesouro no governo Lula, observa que a curva de juros já reflete as dúvidas com a Previdência. O país poderá sofrer ao menos mais um rebaixamento de nota caso não haja a aprovação da reforma da Previdência, diz o economista.

Além disso, as expectativas do mercado, de um crescimento acima de 2,5% do PIB em 2018, poderão ser prejudicadas com as incertezas com o aumento da dívida se somando às dúvidas eleitorais.

Caso a reforma não seja aprovada, o economista do Safra considera que será difícil para o governo compensar com outras medidas. Não há clima para aumentar impostos, lembra Kawall, citando a dificuldade do governo em aprovar no Congresso a reoneração de alguns setores da economia. Quanto ao corte de gastos, a situação seria igualmente difícil sem mudar a Previdência. "Como cortar gastos sem mexer na principal conta?"

(Com a colaboração de Davison Santana e Aline Oyamada)

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