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Geração Y dos EUA também quer comprar casa se a economia deixar

Agnel Philip

27/11/2017 10h31

(Bloomberg) -- Kelsey Marshall e o namorado, Chris Eidam, ambos de 27 anos, dizem que o processo de compra de uma casa é "aterrorizante". Mas eles têm certeza de uma coisa: é muito melhor do que alugar.

"Estamos desperdiçando dinheiro onde estamos agora", disse Eidam, perto de Bridgeport, Connecticut. "Nós simplesmente pegamos o nosso aluguel e jogamos fora. Esse dinheiro não serve para nada."

Se essa linha de pensamento parece familiar é porque, ao contrário de grande parte do que foi escrito sobre eles, a geração Y tem muitas das mesmas atitudes em relação à moradia que seus pais e avós. A maioria diz que quer ter uma casa própria e que só aluga por uma necessidade financeira. Eles até parecem preferir ter casas mais tradicionais nos subúrbios a alugar ou comprar no centro das cidades.

Boa notícia para o setor imobiliário dos EUA -- mas a história não termina aí. A proporção de proprietários de casa própria continua perto de pisos recorde, vários pontos percentuais abaixo do nível anterior à crise imobiliária, apesar de uma das maiores expansões econômicas já registradas. Quase ninguém espera que essa proporção volte a ser o que era. E não por causa de uma nova mentalidade da geração Y --, mas por causa do contexto econômico em que eles estão vivendo.

Por enquanto, os corretores imobiliários estão comemorando um leve, mas perceptível, aumento das compras da geração Y, o maior grupo etário dos EUA. Em todo o país, por dois trimestres consecutivos, a porcentagem de compra de casa própria entre pessoas de até 35 anos aumentou.

É uma melhora "muito importante" para o setor e mostra que a geração Y está "de volta", disse Ralph McLaughlin, economista-chefe da Trulia. "A longo prazo, a projeção é que eles serão terão casas próprias na mesma proporção que seus pais, ou quase", disse ele. "É que agora eles estão enfrentando ventos contrários."

Mas, e se esses ventos tiverem chegado para ficar? Os aluguéis consomem uma fatia maior da renda do que consumiam antes. E essa renda, por sua vez, não está crescendo muito, o que torna difícil economizar para dar entrada em uma casa. As condições dos empréstimos estão um pouco mais flexíveis, mas os compradores jovens que já têm um grau de endividamento alto devido à dívida estudantil podem ter dificuldade para se qualificar. A construção de casas desacelerou e se voltou cada vez mais para casas de luxo, diante do crescimento da riqueza. Talvez a segurança no emprego seja uma coisa do passado para uma geração cuja vida profissional está começando agora.

"Há 20 ou 30 anos, as pessoas conseguiam um emprego aos 20 e poucos ou 30 e poucos anos com a ideia de poder trabalhar no mesmo lugar até se aposentar", disse Dean Baker, um economista que estuda o setor de habitação e que é codiretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política. "As pessoas não pensam mais assim hoje em dia."

O setor imobiliário dos EUA expressa confiança de que, apesar de todos os obstáculos, os jovens terão casa própria à medida que suas situações de vida mudarem. Embora venham se casando e tendo filhos mais tarde do que seus pais, a geração Y está começando a cruzar barreiras normalmente associadas à compra.

"A longo prazo, vamos superar o problema", disse McLaughlin, o economista da Trulia. "No entanto, talvez faltem 20 anos para que isso comece a acontecer em massa."