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Opep e EUA travam batalha final por supremacia do petróleo

Grant Smith

27/11/2017 13h36

(Bloomberg) -- O confronto entre a Opep e a indústria do petróleo dos EUA está chegando perto da hora da verdade.

A revolução do xisto dos EUA está prestes a se tornar o maior boom de petróleo e gás da história, o que transforma em um ator global um país que antigamente estava à mercê das importações estrangeiras. Essa enorme mudança acabou com o domínio da Arábia Saudita e do cartel da Opep, forçando-os a formar uma aliança com a Rússia, antiga rival, para controlar os mercados mundiais.

Até agora, funcionou ? as reservas mundiais de petróleo estão diminuindo e os preços estão perto do patamar mais alto em dois anos. No entanto, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e a Rússia se preparam para se reunir em Viena nesta semana, a fim de estender os cortes de produção, mas os ministros não sabem como a produção de xisto dos EUA reagirá em 2018.

"Os cortes de produção são eficazes ? sem dúvida, foi a decisão certa, e ter chegado a um acordo com a Rússia foi crucial", disse Paolo Scaroni, vice-presidente da NM Rothschild & Sons e ex-CEO da gigante italiana do petróleo Eni. No entanto, "a Opep não tem o mesmo poder. O fato de os EUA se tornarem o maior produtor de petróleo do mundo é uma mudança drástica."

Para os membros da Opep, há muito em jogo. O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed Bin Salman, está iniciando uma transformação econômica radical do reino, incluindo uma venda parcial de sua companhia estatal de petróleo que poderia ser a maior oferta pública da história. A Venezuela, que arrasta anos de recessão e um endividamento esmagador, está à beira da implosão política.

Redução do excedente

Os esforços dos produtores para eliminar o excedente do petróleo estão começando a render frutos. Neste ano, eles reduziram em 183 milhões de barris o estoque excedente nos países desenvolvidos, o equivalente a mais da metade do excesso, que agora representa cerca de 154 milhões de barris, segundo dados da Opep. Isso revigorou os futuros de petróleo bruto negociados em Londres, que haviam caído para menos de US$ 45 o barril no terceiro trimestre, para o maior valor em dois anos, US$ 64,65, no dia 7 de novembro.

Esse sucesso contraria de algum modo as acusações de que a Opep havia deixado de ser a força dominante do mercado dos anos 1970 e 1980 e se tornado irrelevante. Seus 14 membros continuam extraindo 40 por cento do petróleo mundial, embora sua parcela tenha diminuído desde a época em que a Opep comandava a economia global.

No entanto, o paradoxo básico que a Opep enfrenta é que, quanto mais o grupo tiver sucesso no fortalecimento dos preços, mais ele incentivará os exploradores de xisto e outros concorrentes, disse Mike Wittner, diretor de pesquisa de mercado de petróleo do Société Générale em Nova York.

Os aumentos na produção de petróleo nos EUA no próximo ano serão grandes o suficiente para neutralizar grande parte dos sacrifícios feitos pela Opep e pela Rússia, deixando o excedente mais ou menos intacto, segundo previsões do programa da Agência Internacional de Energia. A recente recuperação dos preços poderia animar ainda mais o xisto.

Em vez de poder declarar a vitória no próximo ano e reativar a produção que foi interrompida, talvez a Opep se veja presa a uma luta indefinida, disse Wittner.